Após ter ganho a batalha pela ?quantidade?, abrindo as portas a nove crianças em cada dez, a escola africana continua sem conseguir vencer o desafio da qualidade de ensino, cujas performances são consideradas as mais fracas de todo o planeta. Em cada cem alunos, apenas 60 consegue terminar o ensino primário e apenas 30 adquire de facto as aprendizagens fundamentais. As causas para este insucesso são múltiplas e estão perfeitamente identificadas. Razões de ordem estrutural, como a insuficiente preparação dos professores, a falta de material pedagógico ou a escassa afectação de recursos destinados ao sector, somam-se à pobreza, que não permite a uma grande maioria da população pagar as despesas de escolarização, à propagação da Sida, que tem vindo a dizimar o corpo docente, aos conflitos e à má governação, para constituírem ?obstáculos a um ensino de qualidade?, explica François Caillods, representante da Unesco para as questões educativas no continente. Outras ainda prendem-se com a herança colonial. ?Muitas crianças só têm contacto com a língua de ensino quando entram para a escola?, refere o ministro namibiano da Educação, Becky Ndjoze Ojo. ?Os estudos, no entanto, mostram que os resultados são bem melhores quando a aprendizagem é efectuada na língua materna?. As soluções também são conhecidas. Os resultados promissores de numerosos projectos ou experiências ensaiadas nos quatro cantos do continente mostram que é possível obter melhores resultados. No Malawi, por exemplo, a abolição de propinas elevou o número de inscrições, nomeadamente entre as camadas mais pobres. No Mali e na Zâmbia, a taxa de sucesso nas escolas bilingues tem progredido de forma acentuada. ?Os nossos estados devem comprometer-se mais, e sobretudo melhor, em favor da educação?, diz o senegalês Mamadou Ndoye, secretário-geral da Associação para o Desenvolvimento Educativo em África, acrescentando o papel dos doadores neste esforço. Isto, porque apesar de o volume da ajuda ao desenvolvimento do sector educativo estar estimada em sete mil milhões de dólares anuais, apenas metade chega ao destino.
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