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No centenário de Beckett discreta história de um grande dramaturgo

Radicalmente pessimista, obcecado pelo silêncio, o dramaturgo Samuel Beckett, autor de uma das obras mais singulares do século XX e Prémio Nobel de Literatura em 1969, teria feito 100 anos no passado dia 13 de Abril.
«Se faço uma reflexão, posso frustrar a minha morte", brincava o autor de 'Esperando Godot'. Dezasseis anos depois da sua morte, no dia 22 de Dezembro de 1989, Beckett continua vivo através da obra teatral, ao mesmo tempo trágica e cómica, em que repercutiu como ninguém a solidão e a angústia humana.
Uma obra inovadora que converteu Beckett, um irlandês formado nos mais prestigiados colégios protestantes, num grande escritor de língua francesa.
Nascido no dia 13 de Abril de 1906 em Foxrock, perto de Dublin, Samuel Beckett deveria ter sido professor, mas o seu sentido sobre os absurdos do mundo converteu-o rapidamente num homem isolado que vivia paralelamente ao seu tempo.
Beckett partiu pela primeira vez da Irlanda em 1928 para viajar para Paris, onde trabalhou como leitor de inglês na Escola Normal Superior. Na capital francesa descobriu a liberdade intelectual e ficou amigo de James Joyce.
Dez anos mais tarde mudou-se definitivamente para a França, onde escrevia na época poemas em inglês e terminou uma primeira novela, "Murphy", que foi rejeitada por 42 editoras.
Quando explodiu a guerra, podia ter voltado à Irlanda, um país neutro, mas escolheu a Resistência, preferindo a França em guerra à sua nação em paz.
Uma nova obra, «Watt», também em inglês, voltou a deparar-se com o desinteresse das editoras.
A partir daí? Beckett optou pela língua francesa. Ao afastar-se do próprio idioma, o escritor defendeu uma literatura minimalista, segundo ele sem estilo, cuja particularidade era a de ser reconhecível entre mil.
O monólogo passou a ser a forma essencial da sua obra. "Toda a  linguagem é uma digressão da linguagem", escreveu. Sob um frenesi criativo, produziu no final dos anos 40 a sua trilogia de novelas: «Molloy», «Malone morre» e o «Inominável».
O Êxito só chegou em 1953, após o seu encontro com o director de teatro Roger Blin, que  montou a obra-prima "Esperando Godot", que muitos directores tinham rejeitado.
«Fim de partida» (1957) e «Dias felizes» (1963) impuseram definitivamente o teatro de Beckett.
Outro encontro importante para o dramaturgo irlandês foi com Jérôme Lindon, fundador da editora Editions de Minuit, que publicou a partir dos anos 50 toda a sua obra.
Desta colaboração nasceu uma obra excepcional, composta de mais de 30 ensaios, novelas e obras de teatro, que Beckett considerava como «sinais no silêncio», uma imagem da vida sombria e sem interesse.
Beckett viveu os últimos dias da sua vida numa obstinada solidão. Actualmente, é um dos escritores de língua francesa mais traduzidos e comentados em todo mundo.


  
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Edição:

N.º 156
Ano 15, Maio 2006

Autoria:

Dominique Chabrol

AFP
Agence France-Presse
Dominique Chabrol

AFP
Agence France-Presse

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