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Ser voluntário ...

O que faz com que professores com salários iguais e estatutos semelhantes sejam ou não voluntários na vida de todos os dias?

Afinal o que é ser voluntário? Há voluntários que trabalham com crianças, com idosos, como bombeiros, como dirigentes associativos, como agentes de desenvolvimento, como missionários, como escuteiros, etc. Ser voluntário é querer servir o outro, de forma abnegada, com uma entrega de si à comunidade e aos outros. É um acto de coragem, de altruísmo, de esquecimento de si para pensar no bem-estar, qualidade de vida, prazer e/ou realização dos outros.
E por quê e para quê ser voluntário? De onde vem essa vontade, esse querer? Qual o objectivo numa sociedade de consumo e de lucro imediato? Por que razão algumas pessoas continuam a dispor desse tempo de entrega? Quem os formou para tal? Onde foram buscar tal sensibilidade e vontade? Quem é, em última instância, a escola dos voluntários? Escola informal dirão alguns, escola da vida, responderão outros. Família, bons exemplos, etc. serão outras de muitas respostas que poderemos ouvir numa coloquial conversa sobre esta matéria. E a escola? Prepara voluntários? Ou, antes, concorrentes?
É mais de perguntas que de respostas que queremos tratar num texto que pretendemos vir a desenvolver, quiçá, aqui, com outros contributos.
E que ganham os voluntários? ?Nada?, dirão os cépticos, ?se ganham já não são voluntários?. ?Prazer, riqueza interior??, dirão outros voluntaristas. ?Qualidade de vida? dirão os profissionais da saúde que chegam a recomendar o voluntariado como forma de vencer a angústia e a depressão.
E os professores são voluntários? De facto há voluntários que, de certa forma, são professores, ensinam os mais desfavorecidos, aqui ou além mar, nas ex colónias, em Timor, nas aldeias mais isoladas, etc. Já pensaram quantos netos terão aprendido a ler e a escrever com os seus avós? E para quê? Porque ambos se divertiam! Porque ambos se sentiam bem. Porque ambos não distinguiam, e portanto não classificavam, o trabalho do lazer, a brincadeira do ensino e da aprendizagem. Simplesmente vivem esse momento que é também de voluntariado não consciente, de entrega com amor e carinho do avô ou da avó aos netos e vice-versa.
Mas, para se ser professor não basta ser voluntário (mas não será preciso?), é preciso ser profissionalizado. E ser profissional desse ofício passa pela distância ou também (e muito) pelo voluntariado? Quantos professores mal toca a campainha que separa o trabalho do ensinar a aprender do intervalo para recreio não ficam na sala de aulas a ouvir (muitas vezes apenas a ouvir) as dúvidas e por vezes sofrimentos dos alunos? Muitos! E serão estes voluntários do trabalho pedagógico? E quantos são os que dizem que fica para a próxima aula que chegou a hora do intervalo? Também são muitos.
Por vezes crê-se e diz-se que a estabilidade docente é fundamental para a qualidade do ensino-aprendizagem e que, portanto, os professores temporariamente colocados não poderão entregar-se ao projecto educativo, ao plano de actividades, etc. É verdade que a instabilidade não produz qualidade pedagógica mas também é verdade que às vezes são professores provisórios (em tempos, dizia-se assim em algumas escolas na conversa entre pares: o colega é colega ou é provisório?) que muito se entregam, voluntariamente, depois do horário de trabalho, muitas vezes pela noite dentro, a preparar materiais para eventos, comemorações, dramatizações, etc. que em nada lhes conta para a progressão na carreira. Digamos, antes, para a progressão formal na carreira pois quanto ao outro currículo, aquele em que poderia figurar uma rubrica relativa ao voluntariado, esse fica mais enriquecido. E, estamos em crer que não muito longe virá o tempo em que quer para aceder a determinados cursos, quer para ingressar em certos empregos, esta dimensão curricular virá (há casos em que já vem) a ser crucial.
Mas, longe de querermos deixar a ideia de que se defende aqui a profissão docente como algo de voluntário, sem preparação e sem remuneração (afinal de contas somos ambos professores), ou que os professores são os maus da fita, sempre deixamos a questão que alimenta o artigo: o que faz com que professores com salários iguais e estatutos semelhantes sejam ou não voluntários na vida de todos os dias?
P.S.: Aceitam-se respostas a estas perguntas para publicar neste espaço. Perguntas também.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 156
Ano 15, Maio 2006

Autoria:

Ana Vieira
Professora do 2.º Ciclo do Ensino Básico. Doutoranda em Educação Social
Ricardo Vieira
Escola Superior de Educação de Leiria, ESE-IPLeiria. Investigador do CIID - Centro de Investigação Identidades e Diversidades
Ana Vieira
Professora do 2.º Ciclo do Ensino Básico. Doutoranda em Educação Social
Ricardo Vieira
Escola Superior de Educação de Leiria, ESE-IPLeiria. Investigador do CIID - Centro de Investigação Identidades e Diversidades

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