Página  >  Edições  >  N.º 155  >  Escolas à beira de um ataque de nervos!

Escolas à beira de um ataque de nervos!

... o mau ambiente gerado no quotidiano das escolas com o crescente mal-estar dos docentes aumentou vertiginosamente com as más imagens do Professor que alunos e pais foram criando ... [mas, é certo que]  sem docentes implicados não há instituições educativas de sucesso, viáveis e de qualidade.

A representação dos professores como preguiçosos, sem formação e até arrogantes foi penetrando na sociedade, através dos discursos da senhora Ministra da Educação, assanhadamente expandidos pela maior parte dos órgãos de comunicação que com tanta facilidade prescindem do seu papel de historiadores do presente, de mediadores justos entre os factos e o público.
Após meio ano lectivo de reformulações em catadupa que violentaram o trabalho nas escolas, chega-se agora a um momento em que o respeito pela profissão de Professor é pouco, ou mesmo nenhum; o mau ambiente gerado no quotidiano das escolas com o crescente mal-estar dos docentes aumentou vertiginosamente com as más imagens do Professor que alunos e pais foram criando. Grandes polémicas geram focos efervescentes de indisciplina e até de violência. As escolas correm o risco de estourar.
Podem os professores estar em sintonia com muitas das propostas do Ministério da Educação. Não se trata de discutir os fins, mas sobretudo os processos. Respeitar os professores significaria negociar condignamente com as suas estruturas sindicais e saber até quais as mais representativas; discutir ideias com as escolas, com os professores e restantes membros das comunidades educativas; e evitar estes diálogos ?parciais? com os Conselhos Executivos, órgãos que são eleitos pelos professores e não podem confundir-se com uma espécie de capatazes do ME.
Acabar com a burocracia e levar os professores e os dirigentes das escolas a assumirem a responsabilidade pelo sucesso de cada aluno é um dos pontos destacados num recente relatório da OCDE que dá conta de países como a China, a Coreia ou a Índia que, com pouco dinheiro, conseguiram atingir níveis superiores aos da França, da Alemanha, ou da Itália. Isso exige que os professores se sintam bem nas suas funções e reconhecidos pelas comunidades e pelo Ministério. Sem docentes implicados não há instituições educativas de sucesso, viáveis e de qualidade.
Para que a educação em Portugal seja um êxito há muita coisa a mudar: tem a senhora Ministra muita razão. Mas não seria preferível em vez de pôr de repente um professor que trabalhava na escola só 12 horas a ir lá 26, optar por aumentar umas 4 por ano até chegar às ditas 26? Não seria melhor reavançar com medidas tomadas há poucos anos pelo anterior governo PS (depois destruídas sem nexo pelos ministros do PSD, provocando a ruptura em estruturas que começavam a ser implementadas com sucesso) como as áreas disciplinares não curriculares com dois docentes do Conselho de Turma? Não seria de investir finalmente no verdadeiro papel de líderes pedagógicos e de animadores dos coordenadores e subcoordenadores de Departamento? Na dinamização dos grupos de docência e dos Conselhos de Turma? No papel essencial das Assembleias de Escola, padrões de inserção no Local? A Gestão Flexível do Currículo, quando será implementada?
As 50 mil assinaturas entregues em Fevereiro no ME contra as ?aulas de substituição? significam que os professores sabem que cada estabelecimento escolar é uma realidade individual, com características próprias, a precisar de ser gerida a cada momento. O recente relatório do GAVE sobre o insucesso em Matemática mostra a grande variedade de estratégias; para cada aluno, grupo de pares, haverá que ter uma resposta: envolvimento dos pais, programas mais curtos, actividades extra-curriculares, manuais escolares de qualidade e não determinantes em relação ao processo de ensino-aprendizagem, situações proporcionadoras de hábitos de trabalho, conhecimentos básicos. Tudo isto pode exigir, em vez de um exame aos futuros professores sobre o seu ?conhecimento científico, humanístico e tecnológico?, uma verdadeira avaliação das instituições de Formação de Professores. E por que não perguntar às escolas o que acham necessário para a formação de professores?
Estamos de acordo com muita coisa. As escolas de um só aluno são caras, o inglês e a educação artística no 1º Ciclo são essenciais. E tantas outras medidas.
Mas convém nunca esquecer o papel fundamental dos professores e as suas longas horas de trabalho extraordinário não remunerado: na relação com colegas e com alunos, na aprendizagem, no evitar que se descubram caminhos pouco recomendáveis, na ligação aos pais. Que o diga o director de turma do meu filho, ali no 9ºB, na escola António Sérgio, em Gaia, que parece até complicada, pelo menos se lermos os jornais. A minha justa homenagem. A ele e a tantos outros que por esse país fora fazem as escolas respirar.
Que este mês de Abril é de Esperança e não se pode perdê-la!


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 155
Ano 15, Abril 2006

Autoria:

Rafael Tormenta
Professor do Ensino Secundário
Rafael Tormenta
Professor do Ensino Secundário

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo