A avaliação pode contribuir para que as escolas enriqueçam o currículo mas também pode contribuir para que o empobreçam ou reduzam a uma expressão simplista e redutora. Tudo depende das concepções que se sustentam.
A investigação realizada no âmbito da formação de professores mostra que, em geral, os docentes não têm oportunidades para discutir e aprender a situar a avaliação nos processos de ensino e de aprendizagem. Este facto é surpreendente pois indicia que os três mais importantes pilares de qualquer processo educativo e formativo ? o ensino, a aprendizagem e a avaliação ? podem estar a ser tratados de forma desconexa e desintegrada. Ou seja, revela que a concepção predominante de avaliação nos contextos da formação de professores pode estar limitada à de uma avaliação essencialmente sumativa, mais destinada a classificar os alunos do que a apoiá-los na melhoria das aprendizagens. A avaliação é um domínio do conhecimento da educação que deve ser estruturante em qualquer sistema de formação de professores porque, entre outras razões: a) pode ter um papel relevante na transformação, democratização e melhoria dos sistemas educativos; b) interessa aos alunos, escolas, professores, pais e encarregados de educação e à sociedade em geral; c) deve ocupar um lugar relevante no desenvolvimento do currículo; e d) deve estar integrada nos processos de ensino e de aprendizagem. Isto significa que uma reflexão séria sobre avaliação implica que se integrem saberes e se estabeleçam relações entre ideias, que se mobilizem conhecimentos de várias disciplinas científicas da educação e que se tenham perspectivas sistémicas e abertas dos fenómenos educativos. A avaliação pode contribuir para que as escolas enriqueçam o currículo mas também pode contribuir para que o empobreçam ou reduzam a uma expressão simplista e redutora. Tudo depende das concepções que se sustentam. Se a concepção preponderante dá ênfase às funções de classificação, selecção ou certificação e aos resultados da avaliação externa, então é natural que haja um estreitamento e empobrecimento do currículo. Neste caso a tendência das escolas e dos professores é a de se centrarem na preparação dos alunos para os exames ou para os testes que, por natureza, não podem abranger todos os domínios relevantes do currículo. Se, por outro lado, predomina uma concepção que dá ênfase às funções de regulação, melhoria ou desenvolvimento, integrando de forma mais equilibrada os resultados da avaliação externa, então podemos estar perante um currículo mais enriquecido. Neste caso os esforços das escolas e dos professores estão mais centrados em proporcionar feedback formativo aos seus alunos para que eles possam regular as suas aprendizagens. Os alunos trabalham então um alargado leque de domínios do currículo através de tarefas de natureza diversa. Nunca é demais afirmar que pouco há em comum entre dois sistemas educativos em que, num caso, a concepção predominante de avaliação é formativa (avaliação para as aprendizagens), para regular e melhorar, e, no outro, tal concepção é sumativa, para julgar e classificar. São dois mundos completamente distintos ao nível da organização e funcionamento das escolas, das tarefas que se propõem aos alunos ou dos papéis que alunos e professores desempenham. Estas simples constatações ilustram questões que não devem ser ignorados nos contextos da formação de professores tais como: a) a integração do ensino, da aprendizagem e da avaliação; b) as funções da avaliação formativa e da avaliação sumativa; c) a natureza do feedback; d) a natureza das aprendizagens induzidas pela avaliação formativa e pela avaliação sumativa; e) a selecção das tarefas de ensino, de aprendizagem e de avaliação; f) o papel dos professores e alunos no contexto de uma avaliação para as aprendizagens; g) as relações entre a avaliação formativa e a avaliação sumativa; e h) as relações entre a avaliação interna e a avaliação externa. E muitas outras? Uma real articulação entre a investigação, a formação e as práticas constitui um contexto favorável à formação de professores, muito particularmente na área da avaliação. Mas é necessário romper com a racionalidade que ainda sustenta os modelos de formação predominantes. Mas isso só poderá ser discutido numa outra oportunidade.
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