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Uma questão de forças

Sem o impacto que tiveram e ainda têm as caricaturas que envolveram a imagem do profeta Maomé, na 25ª edição da Feira de Arte Contemporânea de Madrid (ARCO) apareceu uma pequena escultura a representar Cristo com uma bomba na mão. Alguns órgãos de comunicação social ainda ensaiaram um cenário de polémica mas a verdade é que esta não chegou a instalar-se ? a escultura, com um máximo de 20 centímetros de altura, estava escondida, ao lado de outras obras, numa ?vitrine? de um stand da ARCO para azar de muitos visitantes que a procuraram sem conseguir localizá-la.
Menos impacto parece ter ainda a notícia que dá conta da decisão de um juiz federal dos Estados Unidos da América. Jed Rakoff, a obrigar o departamento de Defesa a identificar publicamente os presos detidos em Guantanamo, gente classificada como ?combatentes inimigos? e mantida sem quaisquer direitos inerentes à condição de prisioneiro de Guerra, ou apenas prisioneiro,  na base militar norte-americana instalada em Cuba.
Em Guantanamo, segundo informações oficiosas, estarão detidas 490 pessoas, algumas sem saber que acusação recai sobre elas e todas, até ao momento, impedidas de contestar legalmente a detenção, como deve poder acontecer, em qualquer circunstância, num Estado de Direito que se rege pela universalidade e primado  das leis
Pertencem a esta mesma face da moeda algumas reacções, dos Estados Unidos da América, de Israel e até da União Europeia à vitória do Hamas, por maioria absoluta, nas recentes eleições para o Parlamento dos territórios autónomos palestinianos. Congelar  apoios financeiros já devidos à Autoridade Palestiniana é, no caso, dizer que a Democracia só é aceitável quando ganham aqueles que queremos que ganhem.
A Democracia assim assumida não passa de uma avaliação permanente sobre a correlação de forças de cada momento . Não passa de uma caricatura da própria Democracia, temendo-se que estas contradições em torno da Liberdade de Imprensa  sirvam para preparar a opinião pública no sentido da aceitação de novas agressões de um ou de vários Estados sobre outros Estado.


  
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Edição:

N.º 154
Ano 15, Março 2006

Autoria:

Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias
Júlio Roldão
Jornalista do Jornal de Notícias

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