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Carta Aberta ao Deputado Pedro Duarte

Escrevo esta carta aberta não com o propósito de defender a última proposta do ministério da educação, o fim dos exames obrigatórios para os cursos no 12º ano, mas sim para chamar à atenção da ingenuidade dos políticos portugueses no que se refere às politicas educativas.
O Deputado Pedro Duarte, em representação do PSD, afirmou que a abolição dos exames obrigatórios para os alunos do 12º ano era uma defesa do ?nacional porreirismo? e do ?dolce fare niente? que conduziam Portugal de regresso ?à cultura de facilitismo, avessa ao rigor, à exigência, à excelência?. Acrescentou ainda que esta medida, caso fosse concretizada, seria um ?bónus à preguiça? dos alunos. 
Caro Deputado Pedro Duarte, talvez os anos que o separam do ensino secundário não lhe permitam reconhecer a ingenuidade das suas afirmações. Isto porque, o que se verifica no ensino português é exactamente o contrário do que o Sr. Deputado afirmou. Não tenho dúvidas de que a cultura dos exames é que promove o facilitismo e o ?dolce fare niente?. O que é mais fácil do que decorar livros inteiros e despejá-los em 2 horas de escrita? Haverá algo mais fácil do que estudar para um exame onde se sabe de antemão os objectivos, possíveis perguntas e critérios de correcção? O que é que é mais fácil do que corrigir testes e exames com respostas estereotipadas? Haverá modelo mais fácil, do que seriar os seus alunos por um número que, supostamente, o caracteriza?
Se fizer um esforço de memória, encontrará diversos casos de alunos que passaram os três anos de secundário a faltar ás aulas, não fazer os trabalhos de casa, tirar notas razoáveis nos testes, não pesquisar o que quer que fosse e a chegar ao momento dos exames frequentarem explicações de tudo e mais alguma coisa, decorarem as respostas aos objectivos dos exames e conseguirem a entrada no curso que desejavam. Com mais um esforçozito, com certeza, se recordará de colegas que não faltaram a uma única aula durante esses três anos, que construíram portfólios das cadeiras, que realizaram todos os trabalhos de casa, que tiraram excelentes notas nos testes, procuraram outra bibliografia sobre as diversas matérias que eram dadas nas aulas, que participaram nas várias actividades extra-curriculares promovidas pela escola e por motivos familiares ou, mesmo, pelo nervosismo e ansiedade que causa um exame nacional tenham descido brutalmente a sua média o que os impossibilitou de ingressarem na Licenciatura que desejavam. (Só uma ressalva: infelizmente, eu pertenço ao grupo dos primeiros alunos que).
Qual o modelo que propicia o facilitismo, a inércia e a preguiça? Qual destes exemplos é avesso ao rigor, à exigência e à excelência? Destes dois grupos de alunos, quais são os preguiçosos? Afinal quem contribui para o atraso do desenvolvimento do país, o Sr. Deputado Pedro Duarte ou o Ministério da Educação? Os exames, ou o trabalho e avaliação contínua? O decorar de conteúdos que nunca se conhecerão, ou o conhecer conteúdos que nos permitem saber sem decorar? O gosto pelo aprender e pelo conhecimento, ou o marranço acrítico e robótico?
A carta já vai longa, por isso despeço-me com mais um apelo a que se deixe de pensar na ausência de testes e exames como estratégia de promoção do ?dolce fare niente? ? gostei da expressão! Todos nós passámos pela escola e todos deveríamos saber que uma avaliação contínua, composta por trabalhos temáticos, portfólios, a assiduidade e pontualidade, a participação dos alunos é muito mais justa do que um simples exame de duas horas. Os alunos trabalham e aprendem muito mais.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 152
Ano 15, Janeiro 2006

Autoria:

Tiago Pinto
Aluno do Curso de Ciências da Educação na FPCE da Univ. do Porto
Tiago Pinto
Aluno do Curso de Ciências da Educação na FPCE da Univ. do Porto

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