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A SIDA nos meios de comunicação

1. As contradições. A SIDA é sinal de desgraça, morte, silêncio, horror, solidão, por isso é um tema que vende. Esta doença obrigou a formas diferentes de comunicar e de pensar. Desde o seu aparecimento muitas vidas se perderam, números estatísticos que escondem a verdadeira realidade. Os meios de comunicação ao procurarem fazer eco desta pandemia entraram em contradição. Se, por um lado, informaram e alertaram para os perigos de transmissão; por outro, criaram rostos diabólicos da doença. E ao fazê-lo, construíram medos, rejeições e intolerâncias, contribuindo para acentuar o estigma dos infectados e para um sentimento de invulnerabilidade dos sujeitos. Os média foram deuses de duas cabeças.
2. Doença do amor e da vida.
. O vírus foi conhecido em 1983, mas só em 1987 foram conhecidos com absoluta certeza as vias de transmissão - via sanguínea e via sexual. Em suma, os mesmos canais da vida e do amor, os mesmos que  podiam também dar origem á morte e ao ódio. Estes canais de infecção deram origem a gritos em silêncio, a intolerâncias e medos pavorosos. A ignorância foi fonte de notícia.
3. O ser humano. Falar de um vírus, de investigação, de medos de contágio, são apenas conceitos que revestem uma nova compreensão quando têm como centro o ser humano. São estes os principais actores desta peça teatral dramática, que passam a representar um novo papel, desde o momento que ouvem um veredicto de condenação tem VIH/SIDA. Este ser humano sabe agora ensinar valores incalculáveis a todos os que aparentam estar sãos. Esta doença, que deixa apenas de ser sua, para ser de todos: amigos, familiares e companheiros de trabalho. E como qualquer condenado, vive apavorado. Os média sabem muito bem explorar estas situações limite e transforma - las em notícia.
4. A sociedade. Os meios de comunicação reflectem a sociedade e vice versa. Os avanços científicos permitiram que a doença deixasse de ser apenas de alguns, para ser uma doença de todos. O número de casos de pessoas com VIH/SIDA entre os heterossexuais é cada vez maior e, por vezes, superior ao número de infectados homossexuais. Mas, os meios de comunicação foram (e são) parcos em informações sobre a transmissão de origem heterossexual.
6. É uma doença democrática. Hoje sabe-se que ataca pobres e ricos; brancos e de outras cores; homossexuais e heterossexuais; homens e mulheres; inocentes e culpados; informados e ignorantes; velhos e novos; países ricos e pobres. Mas, se a doença é democrática o mesmo não se poderá dizer dos meios para combate -la.
7.Também a doença foi protagonista. Foi notícia a luz e as sombras. Esta permitiu desocultar outras realidades. A consciência da falta de meios para a investigação; o protagonismo de alguns cientistas e médicos carentes de visibilidade. Puseram ainda a claro as lutas pouco éticas entre os interesses económicos dos laboratórios Entretanto os jornalistas, mesmo desconhecedores dos mecanismos da enfermidade, prontamente emitiram opiniões, escreveram para o papel os seus mitos e incompreensões. Chamou á atenção para a formação destes profissionais para áreas de saúde pública.
É urgente mais e melhor informação, sem alarmismos e espectacularidade, que ajude a construir pessoas mais conscientes das suas misérias e grandezas. Uma sociedade informada poderá viver com a SIDA, como uma ameaça compreendida, uma ameaça criativa de novos valores, de amor, solidariedade, ternura.
Só as pessoas bem informadas podem ser solidárias e tolerantes.


  
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Edição:

N.º 152
Ano 15, Janeiro 2006

Autoria:

Orquídea Lopes
Universidad de Salamanca
Orquídea Lopes
Universidad de Salamanca

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