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As substituições

A Educação é considerada um assunto importante desde há muitos milénios. Sabe-se que o homem primitivo terá tido um certo tipo de Educação, percebida como transmissão de conhecimentos, de tipo técnico ?saber fazer?. Caçar, pescar, mais tarde cultivar e criar gado, são actividades que requerem uma aprendizagem. Só com aprendizagem há a possibilidade de progressos rápidos. Foi desta forma, encarando o conhecimento como um produto colectivo, património comum a todos os seres humanos, que as Ciências se desenvolveram. Sem prejuízo do mérito individual de cada grande cientista, o que cada um conseguiu é tributário do esforço anterior a si mesmo. Não tem por isso sentido pretender julgar cada personalidade do mundo científico de forma individual. Isso é esquecer as limitações da época em que viveu. Aristóteles, por exemplo, tem sido ?culpado? pelos erros que cometeu, ou Descartes, noutros contextos. Parece evidente que não devemos culpar um indivíduo pelos erros, em Ciência. Descartes, por exemplo, foi um matemático de tal dimensão que os ?erros? que cometeu foram impossíveis de evitar no seu século (o Século XVII). Com isto pretendo dizer que a Educação enquanto campo de conhecimento não tem nada a ver com a ?Educação? tipo discurso de senso comum, sujeita às mais divergentes opiniões, produzida por pessoas do mais diverso tipo, mesmo que de forma bem intencionada (...) A Matemática, por exemplo, só pode ser ensinada cientificamente por quem a tenha estudado desse modo e aprendido a ensinar. O mesmo acontece com qualquer outro saber escolar. Sem prejuízo de auscultar as Associações de Pais, de Alunos, de agentes do Poder Local, de todos os que podem intervir como partes envolvidas no processo educativo, julgo que os docentes, esses sim, especialistas em Educação, são as pessoas que devem orientar a condução de matérias e intervir na construção de progressos no Sistema Educativo. Fazer ?reformas? educativas contra os docentes é tão científico como fazer Ciência sem cientistas. Parece claro, mas muitas pessoas não entendem as questões desta maneira. Há Medicina sem médicos? Há Engenharia sem engenheiros? Há Educação sem intervenção dos docentes? Não o julgo possível. Talvez por isto, por um entendimento simplista de Educação, se pense ser ?Educação? manter alunos fechados em salas de aula, controlados por um qualquer docente disponível, se necessário jogando à ?Batalha Naval?.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 152
Ano 15, Janeiro 2006

Autoria:

Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real
Maria Gabriel Cruz
Univ. de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Vila Real

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