Reunião do G-8
Falou-se bastante, na última reunião do G-8, da ajuda a África. E foi auspiciosamente anunciado o perdão da dívida aos países africanos mais pobres e o compromisso de assegurar, até 2010, tratamento a todos os infectados pelo HIV (28 milhões). Dominada pelo espírito benemérito, a reunião recomendou que a ajuda não deve obrigar, como até aqui é prática corrente, os beneficiários a comprar bens do doador; deverá consistir de doações e não de empréstimos, que só servem para fomentar o endividamento crescente; deverá ser dirigida para os sectores propostos pelos países carenciados e não canalizada para onde decide o doador; reclamou mesmo que as empresas ocidentais que trabalham em países africanos sejam mais transparentes nas suas relações com os governos africanos? De tal modo que os mais entusiastas saudaram ?o novo relacionamento? entre o mundo desenvolvido e o continente africano que vai sair deste ?moderno plano Marshall?. Se passarmos porém da fachada brilhante para os factos, é outro o panorama. Concretamente, a ajuda consiste na promessa de 48 mil milhões de dólares para a redução da pobreza em África nos próximos 5 anos. À primeira vista, não parece nada mau, mesmo considerando que a Grã-Bretanha, por exemplo, que apareceu na vanguarda da campanha ?solidária?, gasta oito libras em despesas militares por cada libra gasta em ajuda ao desenvolvimento. Mas os 48 mil milhões são uma fraude publicitária. Muitos dos fundos agora prometidos são a confirmação de ajudas já antes anunciadas. Muitos outros são apenas adiantamentos de orçamentos futuros da cooperação (isto é, o que será dado agora faltará dentro de alguns anos...). Pelo que especialistas em desenvolvimento estimam que menos de metade destes 48 mil milhões corresponda a nova ajuda. Quanto ao perdão da eterna dívida externa, que afecta 62 países, foi circunscrito a 18 países muito pobres e é além disso muito parcial: só engloba as dívidas ao FMI, ao BM e ao BafD (Banco Africano de Desenvolvimento); todas as dívidas a governos, etc., ficam de fora. O perdão ascende a mil milhões de dólares no ano corrente, quando seriam necessários 10 mil milhões de dólares anuais em cancelamentos de dívidas para libertar da canga esses países. Foi proclamado nos discursos da praxe que este generoso perdão iria permitir canalizar fundos para a saúde e educação desses povos. Falso. O acordo explicita claramente que a ajuda a esses países será cortada exactamente no montante da dívida perdoada. Quer dizer: a contrapartida pela redução da dívida é uma redução nos fundos recebidos! E os países contemplados ficam ainda sob a ameaça de um controlo mais apertado por parte do FMI, como foi reclamado na reunião pela Áustria, Bélgica, etc. O que estas ajudas e perdões oferecem aos povos africanos está à vista. A ONG britânica Christian Aid estima que a África perdeu nas duas últimas décadas cerca de 272 mil milhões de dólares pelo facto de ter sido forçada a promover a liberalização comercial e políticas de ajustamento estrutural em troca dos empréstimos e das acções de redução da dívida por parte do BM. Sem falar das acções de ?manutenção da paz?, nome eufemístico com que se designam os contínuos golpes de Estado promovidos pelas grandes potências. Quanto à questão vital das barreiras comerciais impostas pela Europa e pelos Estados Unidos aos produtos agrícolas africanos, como o açúcar e o algodão, ao mesmo tempo que subsidiam a sua própria produção, o G-8 constatou mais uma vez a ?falta de vontade política? para a levar à prática. É assim com suprema hipocrisia que o comunicado final da reunião recomenda aos países africanos esmagados pelo imperialismo que ?definam as suas próprias políticas comerciais?.
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