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A Urgência da Disciplina de Português como Língua Segunda/Estrangeira a Nível Nacional

Se a escola deve formar e motivar alunos para a excelência, torna-se quase impossível, salvo raras excepções, para um aluno recém-chegado a Portugal acompanhar todas as aulas [leccionadas em português].

Mesmo para quem ?está longe? do universo escolar é óbvio o facto de chegarem às escolas portuguesas cada vez mais alunos estrangeiros, oriundos dos PALOP, da Europa de Leste e da China, entre outros países. Após a atribuição de equivalências a esses aprendentes adolescentes, os mesmos são inseridos em turmas (5º-12º anos) constituídas maioritariamente por alunos portugueses, fluentes na sua língua materna.
Se a escola deve formar e motivar alunos para a excelência, torna-se quase impossível, salvo raras excepções, para um aluno recém-chegado a Portugal acompanhar todas as aulas (leccionadas em português). No entanto, até à data, anos após o início da vaga de imigração em Portugal, as escolas em que a disciplina de Português Língua Segunda (PLS/PL2) ou Estrangeira (PLE) existe são raras excepções, encontrando-se esta dimensão do ensino da nossa língua praticamente ausente também na formação inicial de professores. Ou seja, apesar de surgirem cada vez mais manuais escolares de PLS em contexto de imersão na língua, de que são exemplo Português Mais e A Actualidade em Português, as escolas, no geral, não dispõem de literatura sobre a pedagogia específica de PL2, nem sequer de um programa oficial ou materiais específicos, dependendo a coordenação da disciplina do bom-senso e da intuição do professor a quem foi distribuída/imposta a tarefa, sem qualquer formação prévia, de ensinar a sua língua a alunos estrangeiros recentemente chegados a Portugal ou residentes há já algum tempo, mas cuja língua doméstica/familiar é o crioulo, o chinês ou russo, que interferem na aprendizagem da nova língua.
O docente interessado poderá recorrer à bibliografia que começa lentamente a surgir em torno do problema ou, por exemplo, ao Mestrado em Ensino do Português como Língua Segunda e Estrangeira (Universidade Nova), reflectindo o currículo do curso que o bilinguismo acarreta o biculturalismo, tornando-se pertinentes campos do saber como a psico/sociolinguística; a gramática; a didáctica da LE/2, bem como a importância da relação entre língua e identidade e do conceito de competência comunicativa subjacente à abordagem pedagógica de qualquer LE.
O professor ciente da forma como o crioulo interfere negativamente na aprendizagem do Português poderá perceber o erro do aluno e corrigi-lo a partir da diferença entre as duas línguas, em vez de impingir uma regra gramatical ao ?aprendiz? que deve ser o centro do processo de aprendizagem-ensino, como refere o Quadro Europeu Comum das Referências para as Línguas, ao tipificar os domínios que interessam a este último (privado/público/profissional/educativo) e as competências (sócio)linguísticas e pragmáticas da aprendizagem.
Uma perspectiva interaccionista ajuda o discente a tornar-se um falante autónomo e fluente, sendo exactamente o que se pretende com a disciplina de que nos ocupamos, seguindo o professor, enquanto mediador de saberes (pedagogia mediatizada), muitas das aprendizagens da sua formação, ao adaptar a dinâmica da aula de PLE às necessidades dos alunos, com materiais diversificados, motivadores, adequados e fiáveis.
A urgência do estabelecimento do PLE/2 a nível nacional prende-se não apenas com a necessidade pragmática que os alunos sentem de aprender a língua do país em que se encontram, mas também com a justiça que estes adolescentes estrangeiros, imediatamente incluídos em turmas de 9º ou 11º ano, merecem, podendo assim aproximar-se dos seus pares portugueses, na companhia de quem participam em todas as aulas forçosamente em língua portuguesa, sendo avaliados nesse idioma. Adoptando uma linguagem talvez pouco adequada, mas concisa e clara, perguntemo-nos como poderá o sistema de Ensino exigir/esperar qualquer output do aluno sem ter existido qualquer input adequado, eficaz e justo?


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 149
Ano 14, Outubro 2005

Autoria:

Rogério Miguel Puga
Professor. Educação Informal.
Rogério Miguel Puga
Professor. Educação Informal.

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