É claro que o ideal seria que as escolas abraçassem novos percursos. Que não fosse necessário haver Área de Projecto, mas que os professores, trabalhando em equipa, desenvolvessem processos de ensino-aprendizagem centrados em situações problemáticas integradoras de saberes, muito para além da mera junção multidisciplinar. Que cada docente assumisse a Formação Cívica (?) Que se interessasse pela forma como os alunos apreendem os vários conhecimentos?
A ?anunciação? do novo ano lectivo foi feita com antecedência, alvitrando-se grandes mudanças de forma pragmática, como se de repente tudo estivesse à beira de ser resolvido. Estranhamente, tentou-se preparar o terreno denegrindo a imagem dos professores e das escolas. Dado um pequeno mote pelo poder central, logo os ?arautos de verdades e inverdades? se esforçaram por mostrar como os docentes ?trabalham poucas horas?, como ?nada se faz?, elegendo de entre uma paleta de realidades as mais escuras, susceptíveis de serem facilmente apreendidas pelo grande público. Mas não se falará hoje dos maus-tratos normalmente dados às notícias. Um estudo apresentado em Setembro no VIII Congresso Galaico-Português mostrou como os meios de comunicação são mais didácticos que os materiais usados nas escolas para esse efeito; ou seja, os jornais conhecem bem melhor o seu destinatário. O que é positivo e uma bela lição, em termos comunicacionais. As escolas reabriram as portas - que, por sinal, nunca estão fechadas - para receberem os alunos. Estes ?clientes? vêem agora mais hipóteses de permanecerem no estabelecimento, uma vez que o Ministério determinou que os docentes, de forma autonomamente gerida pelos respectivos Conselhos Executivos e Pedagógicos, estivessem mais tempo na escola. A medida parece acertada, haveria professores ainda muito novos a trabalharem pouco tempo, na sua maioria a ?acumular? funções em escolas privadas ou na vida doméstica. Há que dignificar o Ensino Público, que arranjar emprego para os recém-formados; estamos todos de acordo. No entanto algumas dúvidas se põem. Os professores foram obrigados a preencher todos os seus horários ?tradicionais? - correspondentes, até aos 40 anos de idade, a 22 horas - com aulas (Quem lhes vai pagar horas extraordinárias quando fizerem substituições?...). Os outros tipos de trabalho com alunos, como Clubes, Ateliers, Animação na Biblioteca, etc. não puderam ser incluídos neste tempo, exceptuando as direcções de turma e as coordenações do desporto escolar e da biblioteca. Das duas uma: ou se considera que este tipo de trabalhos com alunos não é válido pedagogicamente ? o que é um erro ? ou se considera que as aulas, concebidas ainda de forma muito tradicional, devem cada vez mais centrar-se em novas metodologias proporcionadoras de momentos de aprendizagem que estejam realmente no âmbito dos verdadeiros interesses dos alunos ? o que seria óptimo. Seja como for, trabalhar com crianças ou com jovens é bastante desgastante; não é a mesma coisa trabalhar com um grupo de 20 jovens num atelier de escrita na Biblioteca, ainda que isso não sejam ?aulas?, ou estar a catalogar livros, trabalho igualmente importante, mas diferente. É preciso rever o que é trabalho com alunos. É claro que o ideal seria que as escolas abraçassem novos percursos. Que não fosse necessário haver Área de Projecto, mas que os professores, trabalhando em equipa, desenvolvessem processos de ensino-aprendizagem centrados em situações problemáticas integradoras de saberes, muito para além da mera junção multidisciplinar. Que cada docente assumisse a Formação Cívica como algo que lhe compete enquanto cidadão e formador de futuros cidadãos. Que se interessasse pela forma como os alunos apreendem os vários conhecimentos. Que tivesse a preocupação de ser formador da Língua Materna. Enquanto a Escola ideal não surgir, será, porém, necessário fazer as omeletas ?pedagógicas? com os ovos que há. Mas fazer mesmo. Não é novidade para muitos professores esta ideia de se ficar mais horas na escola; sempre o fizeram. O que há de novo é que vão lá ficar todos os docentes. E alguns não imaginam o que isso seja; e vão ser talvez motores fortes a lutar pela inércia. Há que ter projectos, há que planificar, há que haver na escola direcções executivas e pedagógicas democráticas, mas coesas, exigentes, empenhadas e dinamizadoras de verdadeiras situações de trabalho. Como dizia há dias um docente: ?Mandem-me para a escola, mas para trabalhar!? Que o tempo gasto na escola possa ser, na realidade, um verdadeiro contributo para a edificação de uma sociedade melhor. Os professores têm que aprender o valor do trabalho colectivo, autónomo, devidamente avaliado. Se não se pode fugir a esta realidade de que a escola compreende o espaço e o tempo total das crianças e dos jovens de manhã até à noite, então contribuamos todos para que esse tempo seja de bem-estar, de alegria, de felicidade. Os professores podem organizar-se e fazer muito. Mas que haja consciência de que são necessários outros técnicos, para que tudo possa correr sobre rodas. E já agora, se tanto se torna necessário articular numa comunidade educativa os agrupamentos escolares com outras instituições e com as próprias autarquias, quando pensará o Ministério accionar verdadeiramente o papel que as Assembleias de Escola devem ter?
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