O adulto que volta à escola é um aluno que merece tanta atenção, dedicação, empenho e respeito quanto a criança que está em idade escolar e que ainda não vivenciou fracasso e insucesso na vida escolar. A pessoa com baixa escolarização é um ser estigmatizado pela sociedade. Ela carrega, além do peso do fracasso escolar, a vergonha de não ter um emprego melhor, de se sustentar com parcos recursos, de não poder proporcionar uma vida melhor para os seus, de não ter condições de pagar uma boa escola aos filhos. Essas pessoas não podem ser tratadas como seres de menor capacidade de aprendizagem, pois elas, na maioria das vezes, apenas não tiveram a oportunidade de permanecer na escola quando crianças e isso, por diversos motivos, como, terem tido que cuidar de irmãos menores, para que os pais pudessem trabalhar; terem ingressado muito cedo no mercado de trabalho, para ajudar no sustento da família; omissão e falta de estímulo por parte dos pais e da sociedade. Os Cursos de EJA não podem ser encarados como educação de ?segunda linha?, menos importante, de menor qualidade, onde os alunos terão professores ainda não formados ou os reconhecidos como menos preparados ou mais ?baratos?. As escolas devem investir em profissionais com boa qualificação, nos que se identificam com esse trabalho. Os alunos que frequentam as aulas da EJA buscam e merecem respeito, enfim, eles querem o professor que FREIRE (2001) disse buscar ser: «É assim que venho tentando ser professor, assumindo minhas convicções, disponível ao saber, sensível à boniteza da prática educativa, instigado por seus desafios que não lhe permitem burocratizar-se, assumindo minhas limitações, acompanhadas sempre do esforço por superá-las, limitações que não procuro esconder em nome mesmo do respeito que me tenho e aos educandos». Cada docente, com base na sua sensibilidade, bom senso e competência profissional, deve eleger os pontos mais importantes e significativos do seu Componente Curricular para seus alunos e trabalhá-los bem. Os alunos querem compreender a relação dos conteúdos trabalhados em aula, com seu cotidiano, suas famílias, seu trabalho. Não será de muita ajuda, por exemplo, saber de cor qual a transitividade de determinados verbos, se não conseguir utilizá-los. Orientá-los, no sentido de fazer com que aumente sua compreensão do mundo no qual vivemos, as relações de poder da sociedade, os interesses políticos dos governantes é muito mais importante. Como professores, responsáveis por nossa missão, temos e queremos fazer como disse FIORI no prefácio do Pedagogia do Oprimido, de Freire: «para assumir responsavelmente sua missão de homem, há de aprender a dizer a sua palavra». A alegria e o orgulho que sentem quando conseguem expressar coerentemente suas idéias, quando passam a ter coragem de se expor, falar em público, reivindicar, é o combustível que os educadores que atuam na EJA precisam para continuar a sua tarefa. Essa alegria deve ser busca constante, já que a escola não pode continuar a ser um local para onde se vai com tristeza e pesar. Lutero já dizia: «Quando a disciplina é aplicada com o maior rigor e tem algum resultado, o máximo que se alcança é um comportamento forçado ou de respeito; no mais continuam sendo meras toras, que não tem conhecimento nem nesta nem naquela área, não sabem responder e nem ajudar a ninguém». Levá-los a procurar questões subjacentes e encontrar sozinhos respostas a problemas e questionamentos que a vida, o dia-a-dia apresenta, é a função do docente. Os alunos devem receber os instrumentos para a caminhada futura e individual, a motivação para continuarem aprendendo a aprender por toda a vida. Também é importante observar a metodologia e o material utilizados nas aulas. Eles têm que ser próprios para a faixa etária dos educandos, adequados à realidade vivenciada por eles, do seu interesse.
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