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Contacto Corporal

O contacto corporal é um sinal expressivo particularmente interessante, visto representar a forma mais primitiva de interacção social, envolvendo várias partes do nosso corpo, podendo adoptar várias formas como: abraços, carícias, beijos, apertos, pancadas e muitas outras, contemplemos algumas particularidades

Os portugueses ao encontrarem-se cumprimentam-se com beijos, apertos de mão ou com abraços, já os japoneses, limitam-se a inclinar o tronco e agitar o braço ou a mão, mas mantendo sempre a distância entre eles.
Em culturas como a Inglesa e a Japonesa o uso do contacto corporal é muito escasso, já em culturas africanas e árabes, a sua utilização é muito maior. Nas culturas ocidentais o contacto corporal restringe-se de um modo global, a determinadas situações particulares, como situações de saudação ou de despedida. Os orientais, são menos expressivos que os povos ocidentais, os latinos, por sua vez são considerados muito ricos nas suas expressões.
Como podemos constatar notam-se importantes diferenças interculturais no que diz respeito ao contacto corporal, ao seu uso, ao seu significado e à sua proporção.
Os investigadores referem que o contacto corporal é o grande transmissor do sentido de intimidade. O contacto corporal é uma necessidade básica do ser humano, indispensável para a sua sobrevivência. O bebé necessita de ser tocado e estar amparado nas mãos maternas sentindo-se protegido e acarinhado. Estas experiências prematuras, são as primeiras mensagens que o bebé recebe, estabelecendo assim o seu primeiro ?diálogo?. É então nesta acção particular que tanto a pele como a tonicidade muscular funcionam como ligação do foro emocional. É através destes contactos primários, que a criança irá consolidando determinadas sensações tanto físicas como emocionais, essenciais para a determinação da sua personalidade. O seu mundo sensorial e afectivo começarão a desenvolver-se; as necessidades irão transformar-se em desejos, e os desejos em possibilidades ou frustrações. Esta herança sensorial será a base futura do seu desenvolvimento psíquico.
O tacto permitirá ir criando um limite de superfície, onde a pele funcionará como mediador entre o ?eu? e o ?outro?, delimitando a territorialidade do corpo com o mundo externo. A acção de tocar é diferente da experiência de ser tocado, visto que a procura de tocar é uma acção exploratória, enquanto que ser tocado é uma acção receptiva de sinais que são exteriores.
Associamos, assim, o contacto corporal à cultura em que a pessoa vive, como à sua educação. O contacto corporal é por outra parte, mais provável numas situações que noutras, é mais provável quando alguém envia ou dá uma informação ou um conselho do que quando recebe esse mesmo conselho, quando se dá uma ordem mais do que recebe-la, ao fazer um favor mais do que agradece-lo, ao intentar persuadir alguém mais do que ser persuadido, numa festa mais do que no trabalho.
O contacto corporal é iniciado mais frequentemente por homens do que por mulheres, em geral este contacto corporal é iniciado pela pessoa que na interacção possui um status social mais alto ou que detém uma posição de domínio sobre o outro, assim é mais provável que inicie o contacto, o chefe ao empregado, o velho ao jovem, o médico ao paciente, do que o contrário.
Heslin, no ano de 1974, estudou mais profundamente, o contacto corporal, propondo cinco categorias de análise do contacto corporal nas relações interpessoais: a funcional/profissional; a social; o amistoso; o intimo e a sexual.
Actualmente surgiram novos modelos de clínica e pedagogia corporal sustentada em modelos sensoperceptivos, aproximando-os à experiência concreta da própria corporalidade, procurando ampliar o campo autoperceptivo através de canais sensíveis que permitam outras vias de reconhecimento, desenvolvendo a sua capacidade de captar e registar simultaneamente a informação que chega à consciência desde a interioridade. Poder estar em contacto consigo mesmo, é um dos seus objectivos.Devemos pois, na nossa relação com o outro, estar atentos a estes pequenos grandes sinais sensoriais, que são o suporte determinante do nosso nível relacional, que nos favorecerá o autoconhecimento e o aperfeiçoamento de uma sensibilidade profunda, facilitando o aparecimento de um observador interno em cada um de nós e com isso possibilitando uma escuta sensível do outro ser humano.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 148
Ano 14, Agosto/Setembro 2005

Autoria:

Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela
Gui Duarte Meira Pestana
Coordenador e Docente do Curso de Motricidade Humana Instituto Piaget, ISEIT - Mirandela

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