Não existe uma ética absoluta e sim várias éticas. Isto não quer dizer que elas sejam equivalentes, pois uma ética autoritária é condenável diante de uma ética libertária e vice-versa. Assim, a ética humanista é que deve fundamentar o processo de orientação acadêmica, pois ela supera as éticas particularistas e suas relações com o poder.
A orientação acadêmica é um ponto problemático nas universidades, pois ela é uma relação social na qual se colocam frente a frente o professor-orientador e o aluno-orientando na elaboração do trabalho final de um curso. Esta relação reproduz as relações de poder entre professor e aluno existentes nas salas de aula. É por isso que muitas vezes existe um conflito no processo de orientação, quando o aluno não assume uma posição de subserviência e docilidade ou então uma orientação pautada em procedimentos éticos por parte do professor. Daí a importância da ética no processo de orientação acadêmica. A ética é uma práxis, ou seja, é uma prática na qual o indivíduo coloca uma finalidade antes de realizá-la, e tal finalidade é constituída pelos valores fundamentais de um indivíduo, gerando uma coerência entre eles e a prática. Neste sentido, não existe uma ética absoluta e sim várias éticas. Isto não quer dizer que elas sejam equivalentes, pois uma ética autoritária é condenável diante de uma ética libertária e vice-versa. Assim, a ética humanista é que deve fundamentar o processo de orientação acadêmica, pois ela supera as éticas particularistas e suas relações com o poder. O caráter universal da ética humanista se revela no fato dela se voltar para a realização das potencialidades humanas, o que significa ser coerente com as necessidades radicais do ser humano, isto é, com a natureza humana. A partir da ética humanista é possível avaliar a orientação acadêmica. O orientador, neste caso, deve, em primeiro lugar, cumprir o seu papel de orientar. Apesar de em alguns dicionários orientar e dirigir sejam sinônimos, na verdade, são palavras com significados distintos. Orientar é indicar caminhos, rumos, enquanto que dirigir é determinar quais caminhos devem ser seguidos. Assim, o orientador deve evitar a tentação da direção e o orientando deve evitar a receptividade de esperar dele as diretrizes, bibliografia, etc. Mas isto não deve justificar o erro contrário do orientador, que é a omissão que, muitas vezes, é acompanhada pelo abandono do orientando na hora de defesa diante de um banca. A orientação não é direção nem omissão por parte do orientador e sim acompanhamento, indicações, sugestões, que podem ou não ser acatadas pelo aluno. Por isso, nada mais sem sentido do que a afirmação de alguns professores de que o produto da orientação (monografia, dissertação, tese) é uma ?co-autoria?, pois o trabalho é do orientado, que é o único autor. Assim, o orientando deve buscar sua autonomia, pois este é o momento final de um curso, o que significa o estágio final de sua formação. A ausência de autonomia neste momento significa um processo de formação deficiente. No entanto, o orientador, quando se julga diretor, pode ser o maior obstáculo para o orientando e sua formação, ao lhe obstruir o desenvolvimento de sua autonomia e capacidade criativa. Assim, os vários problemas encontrados no processo da orientação acadêmica poderiam ser evitados com o orientador estando de posse de uma ética humanista. Somente assim ele poderia contribuir com a formação e autonomia do aluno e, portanto, realizar efetivamente o seu papel de orientador.
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