Página  >  Edições  >  N.º 147  >  Tornar os sentimentos conscientes

Tornar os sentimentos conscientes

Há dias entrei na Livraria Bertrand que abriu recentemente no Centro Comercial Dolce Vita, no Porto, e uma senhora que eu conheço há anos, de vista, como uma das responsáveis pelas Bertrands do Porto, a quem dei os parabéns pelo espaço novo, sorriu e disse ?já reparou que continuamos a preferir as estantes em madeira?? Nunca tinha reparado. Às vezes não reparamos nas pequenas coisas,
Dias mais tarde, em plena Feira do Livro, entrei numa outra livraria, até então desconhecida para mim, um espaço de letras e conchas, em Leça da Palmeira, frente ao mar, na Praceta Helena Vieira da Silva (como eu gosto da palavra praceta e de Helena Vieira da Silva) e reparei que também ali a madeira era o material nobre.
?É mais quente?, disse-me a Susana Mano, uma jovem de vinte e poucos anos, livreira da esperança daquele espaço que também possui uma galeria de arte, onde está patente, até ao dia 17 de Julho (das 11.30 às 24 horas) a exposição ?Memórias?, de pintura de Alexa.
Rendido à coragem de quem resiste em manter aberta uma livraria com sons do mar, prometi à livreira uma reportagem, sem lhe dizer que seriam apenas dois ou três parágrafos. Mas também lá comprei um livro: uma antologia de poemas sobre Coimbra organizada por Eugénio de Andrade.
Algumas vésperas passadas, na feira do livro, onde Óscar Lopes foi homenageado, tinha comprado uma edição especial, ilustrada, do ?Até Amanhã, Camaradas? de Manuel Tiago, pseudónimo de Álvaro Cunhal. Tudo antes da despedida de Vasco Gonçalves, o general do 25 de Abril que um dia, quando era primeiro-ministro e membro do Conselho da Revolução, disse que a Poesia era muito importante para a própria Revolução, exortando os poetas a levá-la às populações para que muitos dos sentimentos apenas adivinhados pudessem aparecer ao nível do consciente.
Ainda hoje, com hábitos de velho jornalista, guardo a gravação deste discurso proferido no Primeiro Congresso dos Escritores Portugueses, para mim uma das mais notáveis intervenções de Vasco Gonçalves, que há dias, comovido, voltei a ouvir como quem relê um dos poemas eleitos.


  
Ficha do Artigo
Imprimir Abrir como PDF

Edição:

N.º 147
Ano 14, Julho 2005

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

Partilhar nas redes sociais:

|


Publicidade


Voltar ao Topo