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Os tão polémicos exames do 9º ano

?Estou em pleno desacordo com estes exames e com a sua finalidade. Que se pretende avaliar? Quem se pretende avaliar?
Todo o professor que tem competência para ensinar tem, por inerência pedagógica, competência para avaliar.

Há já tempos tive o privilégio de ver publicado neste jornal um artigo meu sobre Avaliação, sobre os tão badalados rankings das escolas.
Hoje escrevo de novo sobre Avaliação, desta vez sobre os tão polémicos exames do 9º ano.
Para começar, estou em pleno desacordo com estes exames e com a sua finalidade. Que se pretende avaliar? Quem se pretende avaliar?
Todo o professor que tem competência para ensinar tem, por inerência pedagógica, competência para avaliar. Por que razão, então, tem de ser reavaliado um aluno que foi ensinado segundo um programa nacional, dentro de um esquema de ciclo, com objectivos, estratégias e orientações definidas e, consequentemente, avaliado dentro de parâmetros estabelecidos?
Será que quem tem competência para ensinar, não tem competência para avaliar? O que será mais importante, ensinar ou avaliar?
Parece-me que com esta medida se está a pôr em causa o avaliador e, acima de tudo, a qualidade do ensino que faz. Se assim é, e se porventura houver razões para tal, não é com o julgamento final do aluno que se resolvem problemas e se melhora a qualidade do Ensino. Esta será apenas mais uma medida arbitrária que só o aluno pode penalizar e, em matéria de acrescento à qualidade do Ensino e da valorização da Educação é, no mínimo, chover no molhado.
A meu ver, o maior dano que um aluno pode sofrer é ser mal ensinado. E é por aí que se deve começar. Deve começar-se por um ensino de qualidade que contemple, entre muitos outros parâmetros, a formação contínua e a avaliação da actuação do professor, que poderá passar pela existência de equipas pedagógicas, assistindo e dando aulas, trocando experiências, aferindo critérios ao longo do ano, num ambiente da mais franca cooperação, visando objectivos comuns, a qualidade do Ensino, a luta contra a exclusão, em suma, o sucesso do ensino-aprendizagem.
Falo em dar aulas porque é assim que se aprende e assim que se ensina. De técnicos e teóricos estamos todos cheios. Assistir da bancada à actuação dos outros não chega. Criticar o que outros fazem e dar sentenças é fácil . Difícil é mostrar como se faz ou se pode fazer.
Acresce ainda que a correcção das provas não é feita por um júri único, nivelador de critérios. A correcção é feita  por escolas diferentes, por professores, os hipotéticos bons e maus ensinadores ou avaliadores. Além disso,  todo o professor sabe que, por mais objectividade que os critérios de correcção pretendam apresentar, a avaliação tem uma carga altamente subjectiva. E, tratando-se de disciplinas como o Português, mais entendível se torna essa subjectividade .
Ouvir dizer que estes exames são uma forma de mobilizar professores para a responsabilidade e alunos para o estudo, que são uma forma de avaliação externa do Sistema, é não entender verdadeiramente o fenómeno ensino-aprendizagem.
Não será a avaliação contínua e só essa, muito especialmente neste nível de ensino, a mais capaz e suficiente para avaliar as competências, os afectos, as atitudes, a tal educação para a vida e para a cidadania? Avaliar é um acto muito importante para quem é avaliado e não se pode arriscar com a vida das pessoas.
E mal vai quando responsáveis pela Educação não atingem o alcance de tais medidas e reduzem a Educação a tão pouco.
Sou professora aposentada há quatro anos e, apesar de já não ter papel actuante, não queria deixar calar a minha voz  por uma causa à qual dei da minha vida toda a vida que pude.
Estão muito paradas e turvas as águas que sempre desejei corressem límpidas dentro do conceito de Educação.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 146
Ano 14, Junho 2005

Autoria:

Eva Soares Pinho da Cruz
Professora aposentada. Leitora do jornal a Página da Educação.
Eva Soares Pinho da Cruz
Professora aposentada. Leitora do jornal a Página da Educação.

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