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Feridas da guerra continuam abertas

As crianças que sobreviveram às experiências traumáticas da Segunda Guerra Mundial ainda sofrem, 60 anos depois, por não conseguirem exteriorizá-las, avalia o psicólogo alemão Hartmut Radebold, que há duas décadas trata destas sequelas.
"A geração nascida entre 1937 e 1946 viveu as bombas, o êxodo, a perda do pai ou da mãe, ou de ambos, a violência passiva, como as feridas, ou a activa para os que estavam envolvidos na Juventude hitleriana", explicou á AFP o doutor Radebold, professor de Psicologia Clínica na Universidade de Kassel (centro) e fundador de um instituto de psicoterapia da terceira idade.
No pós-guerra, havia 2,5 milhões de órfãos na Alemanha, ou seja, uma em cada seis crianças. Mais de um terço dos menores alemães foi deslocado e nove crianças em cada dez viveram os combates ou bombardeamentos.
"Cerca de 30% desta geração sofre de traumatismo a longo prazo, em diferentes graus, e entre 3% a 5% das pessoas de mais de 60 anos sofrem de desordens psicológicas causadas por este período", avalia Radebold, baseando-se nos resultados das suas consultas.
Em 2003, 14,8 milhões de alemães já estavam na faixa acima dos 65 anos.
"A maioria das pessoas acha que as crianças esquecem rapidamente, que as lembranças se apagam, mas isso é falso", disse o psicólogo, acrescentando que "logo depois da guerra, não foi dada ajuda psicológica às crianças na Europa.
Grande parte das crianças alemãs escondeu os seus episódios dolorosos. Alguns tiveram problemas escolares, outros, dificuldades para se relacionar. Na idade adulta, muitos preferiram fechar-se, ou acabaram caindo em depressão.
"A idade da aposentação é uma passagem importante, porque as pessoas têm mais tempo para reflectir", explicou.
Segundo o especialista, as consequências futuras para as crianças dos conflitos na Bósnia, Iraque ou Ruanda não estão a ser levadas em consideração.
Hartmut Radebold, que deu o seu testemunho durante um congresso em Frankfurt, lamenta que nenhum estudo internacional tenha sido feito sobre este tema.


  
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Edição:

N.º 146
Ano 14, Junho 2005

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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