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"O que é que ela tem que eu não tenho?"

Factores que diferenciam a Educação Inclusiva da Escola Tradicional.

Uma escola inclusiva tem o saber do aluno como ponto de partida e leva em consideração os seus processos cognitivos e comportamentais usados para resolver problemas.

Todos nós já ouvimos falar de experiências bem-sucedidas de inclusão. Por toda a parte, vão surgindo experiências de êxito da Educação Inclusiva, enquanto o ranço da Escola Tradicional se vai desvanecendo cada dia mais. Se pudesse falar, a Escola Tradicional perguntaria acerca da Educação Inclusiva: ?Afinal, o que é que ela tem que eu não tenho??. Segundo Lipsky e Gartner (1998), há sete factores que são partilhados pelas escolas que se mostram ?verdadeiramente inclusivas?. Vamos, neste breve texto, sobrevoar um a um:

1. Liderança visionária: é aquela que ?visiona?, que ?antevê?, que define objectivos orientados para o futuro, pensa a longo prazo e delineia projectos arrojados. Não se limita exclusivamente às questões imediatas e locais. Em vez disso, concebe a continuidade do projecto da escola para além do prazo da gestão actual.
2. Colaboração: ?co-laborar? não significa que várias pessoas, embora presentes num mesmo espaço físico, estejam cada qual a fazer o seu trabalho. A ?colegialidade real? (Hargreaves, 1998) acontece quando a comunidade educativa se empenhou no estudo crítico e sistemático da realidade da escola; valorizou a discussão sobre a prática dos professores e criou grupos de reflexão e de questionamento das evidências da escola, trazendo uma nova luz para o que antes era aparentemente familiar.
3. Envolvimento efectivo dos pais: nas escolas inclusivas, os pais não precisam ser chamados: eles já lá estão. Convivendo com os alunos e com a riqueza da interacção humana, estão cientes que uma escola heterogénea é uma escola de qualidade, abundante em experiências compartilhadas e transformadoras. Por isso, as reuniões formais com os professores não trazem grandes novidades que eles já não soubessem, as festas não são ?para eles? mas organizadas também ?por eles?.
4. Apoio à equipa pedagógica e aos estudantes: a direcção tem um papel fundamental de ?retaguarda?, oferecendo apoio a todo o processo educativo. Uma forma de apoio é a busca dos recursos físicos para o desenvolvimento dos projectos da escola. Outra forma é filtrar as dificuldades da escola que não são directamente pedagógicas, ?protegendo? os professores e os alunos de preocupações desnecessárias. A terceira forma (ao nosso ver, a mais importante para a transformação contínua da escola) é incentivar a equipa pedagógica e os alunos a ?correrem riscos?, ou seja, a colocar em prática novas e inusitadas propostas, metodologias, técnicas, estratégias, etc, depois de um planeamento criterioso e colectivo.
5. Uso de modelos efectivos de planeamento e de práticas de sala de aula: o planeamento da escola e de suas práticas não é isolado do quotidiano, mas faz parte de todo o decorrer do processo educativo. Esta forma de planeamento contínuo, reflexivo e crítico, permite ao professor estabelecer práticas efectivamente inclusivas, que contemplem a participação equilibrada dos seus alunos, além de facilitar a diferenciação de estratégias de ensino e a organização da aprendizagem em diferentes grupos cooperativos.
6. Uso de uma nova perspectiva sobre a avaliação: a avaliação não pode servir para descobrir o que o aluno ?não sabe?, nem para somar a quantidade de conteúdos decorados, muito menos para classificar. Uma escola inclusiva tem o saber do aluno como ponto de partida e leva em consideração seus processos cognitivos e comportamentais usados para resolver problemas. A avaliação diagnostica e a avaliação continuada são bons exemplos de acesso ao conhecimento do aluno.
7. Financiamento: uma escola de qualidade que seja tão eficiente quanto a escola especial precisa de recursos para atender a todos os alunos que têm o direito de lá estar, sem qualquer discriminação ou barreira à participação.

Este conjunto de factores tem um significado particular na escola portuguesa. Alguns deles só podem ser resolvidos com uma abordagem mais estrutural da escola, outros estão em grande parte na mão dos professores e outros, ainda, dependem da vontade e do apoio que o professor individual tenha para mudar em direcção à Educação Inclusiva. Como tem sido dito numerosas vezes, a EI não acontece como uma aparição ou por um decreto; é uma construção colectiva que implica um quotidiano profissional exigente para os professores mas que, sem dúvida, recompensa com resultados e com a certeza que se está a fazer o que está ao nosso alcance para dar uma efectiva igualdade de oportunidades a todos os alunos, a promover os seus direitos humanos e a combater a exclusão.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 146
Ano 14, Junho 2005

Autoria:

Luzia Lima-Rodrigues
Centro Unisal, Brasil. Instituto Piaget, Portugal
Luzia Lima-Rodrigues
Centro Unisal, Brasil. Instituto Piaget, Portugal

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