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É necessário afirmar a cultura portuguesa num mundo globalizado

O fenómeno da globalização está a processar-se a um ritmo incontrolável. Ao criarem-se os meios que permitem chegar a informação e as mercadorias cada vez mais depressa a qualquer ponto da terra, o mundo fica mais pequeno e interdependente. Este é um processo fruto do desenvolvimento dos mercados sem fronteiras potenciado pelas novas tecnologias da sociedade da informação. A esta permuta mundial não escapam também as relações culturais e linguísticas com claro predomínio dos mais poderosos economicamente procederem a uma pressão cultural sobre os mais débeis. Se, como refere Eduardo Lourenço, "a globalização está assinada em língua inglesa", neste espaço cultural sem fronteiras, a cultura e língua portuguesas reúne as potencialidades e pode munir-se das ferramentas para fazer frente, com sucesso, ao assalto cultural e linguístico.
As actividades culturais enriquecem-se no confronto com outras. A portuguesa enriqueceu-se e cumpriu-se, quando nos descobrimentos encontrou a sua vocação cosmopolita e universalista. Portugal desenvolveu um percurso histórico próprio, construiu relacionamentos e valores que contribuíram para a disseminação do espírito humanista, para a miscigenação, tirados alguns exageros, no respeito pela diferença cultural e étnica. A nossa identidade moderna formou-se nessa osmose universal de contactos à escala planetária com povos e línguas, enriquecendo-nos mutuamente. Somos cerca de 200 milhões de falantes da língua portuguesa espalhados pelos cinco continentes, inseridos em países em expansão populacional e com enorme potencial económico como sejam o Brasil e Angola. Portugal está inserido num espaço económico e o esforço de modernização e desenvolvimento têm-no afastado de outros objectivos que passam pela afirmação cultural e do relacionamento com o chamado "mundo Lusófono". A construção de parcerias para um aprofundamento da língua e da cultura comuns é exigência que a história e o futuro nos impõem.
A utilização das tecnologias de informação e comunicação pode desempenhar uma função importantíssima no aprofundamento das relações culturais já que elas transportam consigo o elo que pode unir distâncias e encurtar contactos. A iniciativa de multiplicar os conteúdos em português na Internet ganha pleno sentido e reforça a presença da lusofonia no mundo.
Mais explicitamente, as acções passam pela constituição de bancos de dados informatizados, edição de suportes multimédia linguísticos e culturais, a criação de páginas na Internet, o acesso a bancos de dados, a realização de cursos, conferências e seminários on-line, que possam ter o papel tanto de promotor como de federador de informações.
O mesmo raciocínio para a diáspora lusitana que pontilha o mapa-múndi, consequência da emigração e da anterior presença colonialista. A utilização das novas tecnologias, nomeadamente a Internet, na divulgação e ensino da cultura e língua portuguesas no estrangeiro junto da comunidade lusíada são uma ferramenta essencial. Cremos ser esta uma época excelente para de novo nos cumprirmos no intercâmbio com todos os povos.
Por outro lado, cremos que o espaço ideal para iniciar e desenvolver a "batalha" de afirmação dos valores e da cultura portuguesa é a escola. Nela é possível semear atitudes e comportamentos, promover aprendizagens consistentes e duradouras para a persecução destas tarefas. Dos objectivos do Ensino Básico lê-se que a escola é o espaço ideal para "fomentar a consciência nacional aberta à realidade concreta numa perspectiva de humanismo universalista, de solidariedade e de cooperação internacional e desenvolver o conhecimento e o apreço pelos valores característicos da identidade, língua, história e cultura portuguesa". A escola poderá reforçar e ter um papel importante e primordial no enraizar deste relacionamento de povos através de currículos que incorporem conteúdos que contemplem este contacto entre gerações, de parcerias educacionais, de mobilidade da população estudantil e da troca de experiências. A presença das escolas na rede através de portais próprios, o aumento de ambientes virtuais de apoio ao ensino pode propiciar o intercâmbio e a interacção entre os povos.
Nos mares do ciberespaço novos mundos estão à espera para descobrir. Contra aqueles que advogam que os valores culturais específicos, minoritários, localizados, como a nossa realidade portuguesa de país pequeno e limítrofe, se diluirão nos maioritários, mais pujantes e poderosos e, da poeira dos tempos sobrará a globalização, a estandardização e uma cultura única, contrapomos a necessidade de afirmação das culturas nacionais, regionais e locais que poderão enriquecer o global e, por este, serem enriquecidos.


  
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Edição:

N.º 145
Ano 14, Maio 2005

Autoria:

José Alegre Mesquita

José Alegre Mesquita

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