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Manter as escolas com menos de 10 alunos ou agrupá-las em centros educativos?

?Há isolamento e isolamento?

Foi professora na Escola Básica de 1º ciclo de Melgaço durante sete anos. No primeiro ano em que leccionou tinha 20 alunos, no último seis. O encerramento da escola por número insuficiente de alunos permitiu-lhe integrar a equipa que estreou há dois anos o Centro Educativo de Pomares onde se agruparam mais de 70 crianças provenientes de sete escolas. Paula Cerqueira conversou com a Página sobre as potencialidades pedagógicas dos centros educativos, como alternativa à escola rural isolada, e defendeu o seu funcionamento em agrupamentos horizontais que voltem a englobar o 1º ciclo e o pré-escolar.
Ao trocar a escola onde era a única docente pelo Centro Educativo uma diferença foi imediata: "Deixei de tomar sozinha as decisões, boas ou más, e passei a integrar uma equipa de professores que decidia em conjunto". Descobriu então na partilha a peça em falta no modelo da escola que encerrava. A necessidade de discutir o que anteriormente dependia apenas da sua própria resolução foi bem aceite.
O que Paula Cerqueira teve dificuldade em aceitar foi a dissolução do agrupamento horizontal de escolas com sede no Centro Educativo, que funcionou durante os dois anos em que lá leccionou, e a sua integração num agrupamento vertical. Em causa está o facto de a reorganização da rede educativa não ter sido feita "de concelho em concelho", ou seja "o problema está na generalização da verticalidade", contesta Paula Cerqueira. ?Em algumas situações poderão ser benéficos?, afirma. O mesmo não acontece no caso do agrupamento vertical de Melgaço, ao qual a professora pertence. Paula Cerqueira acredita que a junção de escolas não está a funcionar ?na verdadeira essência que presidiu à sua criação?. ?A autonomia dos professores do 1º ciclo está a ser posta em causa a toda a hora?, desabafa e conclui: ?Isso nada tem a ver com o poder central, mas com as pessoas que estão à frente do agrupamento.?
A razão para estas críticas está no desconforto criado por uma situação que envolve a professora, actualmente a leccionar na Escola Básica 1 de Vila, em Melgaço. Foi negada a Paula Cerqueira a autorização para poder usufruir com os seus alunos dos recursos existentes no Centro Educativo de Pomares, que pertence ao mesmo agrupamento e está localizado a 13 quilómetros da escola em que lecciona.
A deslocação ao Centro Educativo de Pomares seria efectuada uma vez em cada 15 dias e serviria para trabalhar a área das expressões plásticas, ?sem que fosse necessário andar a carregar baldes de água para dentro da sala?, como sucede na EB1 de Vila por falta de recursos, diz Paula Cerqueira. Os pais concordaram com a ideia, a professora garantiu que se responsabilizava pelos alunos, mas a direcção do agrupamento decidiu não dar seguimento ao pedido, segundo Paula Cerqueira, ?por não ver nele grande viabilidade?. Acresce que ?no Centro Educativo de Pomares, diz Paula Cerqueira, existem duas salas devolutas e podíamos estar a aproveitar aqueles espaços para fazer aquilo que não podemos fazer nas nossas escolas?.

Encerramento de escolas: uma justificação ambígua

A justificação para o encerramento das escolas rurais com menos de 10 alunos ?é muito ambígua?, diz Paula Cerqueira. ?A reorganização não pode ser feita de forma igual ao nível nacional?, insiste.
?No concelho de Melgaço, a concentração de escolas no Centro Educativo de Pomares foi uma boa resposta ao isolamento em que se encontravam?. O mesmo pode não acontecer noutras situações. Até porque ?há isolamento e isolamento?, adverte a professora, esclarecendo que entre as escolas que encerraram já havia quem tivesse uma ligação à Internet, telefone e alguma aparelhagem conseguida através de subsídios pela participação em projectos educativos. ?Nessas escolas já tínhamos ultrapassado algumas lacunas, pelo que não eram propriamente o exemplo da escola isolada de há 10 anos atrás?, esclarece. ?Mas é claro que num sítio como o Centro Educativo de Pomares é muito mais agradável trabalhar!?, conclui.


  
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Edição:

N.º 145
Ano 14, Maio 2005

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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