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"Evangelho segundo Judas" reaparece depois de séculos de mistério

RELIGIÕES

Quase dois mil anos após ter semeado a discórdia entre os primeiros cristãos, o "Evangelho segundo Judas", apóstolo que traiu Jesus, volta a dar que falar. O manuscrito, 62 folhas de papiro escritas em dialecto copta, a antiga língua dos cristãos do Egipto, deverá ser publicado em alemão, inglês e francês daqui a cerca de um ano.
"Após termos recebido os resultados dos testes de datação com carbono 14 concluímos que o texto é ainda mais antigo do que se pensava e remonta a um período entre o fim do século III e o início do século IV", explica o director da Fundação Maecenas, Mario Jean Roberty, que se dedica à divulgação de descobertas arqueológicas.
A existência do "Evangelho segundo Judas", cujo original é verosímil em grego, foi atestada pelo primeiro bispo de Lyon, Santo Irineu, que no século II classificou o texto como herético. "É a única fonte que permite saber que tal evangelho existia", afirma Roberty, que não quis falar sobre o conteúdo do texto antes da sua publicação.
A autoria da obra continua um mistério. "Ninguém pode dizer que tenha sido o próprio Judas a escrever ele próprio o evangelho", diz Roberty, acrescentando que os outros evangelhos também não terão saído das mãos dos apóstolos.
No Concílio de Niceia, na Turquia, reunido em 325 por iniciativa do primeiro imperador cristão, Constantino, a igreja limitou a quatro os evangelhos transmitindo os ensinamentos de Cristo, aqueles que são atribuídos a Marcos, João, Lucas e Mateus. Cerca de trinta textos, alguns deles conhecidos, foram descartados porque não estavam de acordo com o que Constantino desejava como doutrina política.
De acordo com o especialista, o evangelho de Judas colocaria em questão certos princípios políticos da doutrina cristã e permitiria uma certa reabilitação de Judas, que durante séculos cristalizou as acusações de assassino de Jesus feitas pela Igreja católica contra o povo judeu.


  
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Edição:

N.º 145
Ano 14, Maio 2005

Autoria:

AFP
Agence France-Presse
AFP
Agence France-Presse

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