Escrever sobre autoridade, tema que o tempo transformou em verdadeiro tabu e estabelecer os contrastes desta com o autoritarismo é, hoje, um exercício de verdadeira coragem. Nas famílias, na escola e na sociedade em geral, instalou-se a passividade perante atitudes consideradas ?impróprias?. Assistimos, repetidamente, à exibição de cenas inaceitáveis por parte de crianças e jovens que incomodam com inconveniências, exigem como tiranos, desobedecem descaradamente, ou cometem toda uma série de ?infracções?, enquanto os progenitores se mostram distantes, disfarçam, ou evitam elucidar sobre a negatividade dos actos ocorridos. O mesmo se passa na Escola onde os professores parecem ?ter medo? de intervir, exercendo a sua autoridade. Parece ser consensual entender-se que a disciplina passa por uma certa autoridade dos professores, dos pais, dos mais velhos, ... Todos parecem demonstrar receio em enfrentar e combater as posturas sociais que fogem à chamada norma, não se atrevendo a ajudar os jovens a reconhecerem as suas eventuais faltas. Esta situação pode resultar da ignorância do que é inerente ao desempenho dos respectivos papéis de uns e de outros. Os pais, receosos do autoritarismo, optam pelo ?deixa andar? e a Escola, demitindo-se da função primordial que é educar, permite que os alunos sejam rebeldes, desobedientes, indivíduos que não desenvolvem as competências essenciais para viverem em sociedade. Ora, o conceito de autoridade assenta no direito ou poder de mandar, de se fazer obedecer, de administrar ou legislar, o que se traduz numa missão de quem detém esse poder, vertendo-o ao serviço dos outros e sendo responsável por alguma acção em relação ao bem comum, ou seja, uma influência ?benigna? sobre a sociedade. Assim, uns e outros e todos na sociedade, precisarão de uma aprendizagem dos valores essenciais à formação de uma consciência social, mostrando os educadores que cada um funciona como uma ?entidade cívica? que deve ser respeitada nos seus direitos e exercer os seus deveres na comunidade. Para que isso aconteça, todos necessitam de ?aprender? a ser cidadãos, assimilando valores, códigos e posturas inerentes à conduta democrática, o que passa por distinguir entre o que significa autoridade e exercê-la e o autoritarismo que é algo que foge ao verdadeiro sentido de justiça e de lei. A atitude autoritária não permite o diálogo, o consenso, mas conduz à imposição e à subjugação do outro, favorecendo a agressividade. Nos dias em que vivemos, as crianças e os jovens precisam de uma orientação que venha através da autoridade, mas esta amaciada pelo conhecimento da vida, pela ajuda que se dá no momento certo, pela atenção que nos é requerida, pelos afectos que devemos transmitir, pela solidão que se pretende quebrar, pelos sonhos que podem ser vividos conjuntamente, pelos saberes partilhados, pelo diálogo que se estabeleça com frequência,... Já que impera uma cultura de desresponsabilização, que se acentua e que desvirtua o verdadeiro sentido de educar, enquanto educadores (cidadãos), é urgente repensar o papel dos pais, da família, da escola, numa verdadeira educação para a cidadania. Se ?ser educador é ser um poeta do amor?(1), fica aqui um alerta para que se questione o comportamento das crianças e jovens, no sentido de os ajudar a crescer interiormente, numa viagem de conhecimento de si mesmos e mostrando-lhes que, ser mais velho, é possuir uma outra visão da vida que pode ser traduzida numa autoridade suavizada pela compreensão e pelo amor: ?Não devemos ter medo de perder a autoridade, devemos ter medo de perder os nossos filhos?(2), ou os nossos alunos, ou qualquer outra criança ou jovem que será sempre a esperança do futuro de todos nós.
Notas: 1) Augusto Cury ? Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, p. 7. 2) Idem, Ibidem, p. 90
Bibliografia consultada: CURY, Augusto ? Pais Brilhantes, Professores Fascinantes, Pergaminho, 2004. FONSECA, António Manuel - Educar para a cidadania, Porto Editora, 2001. MAIA, Maria José - A Autoridade do Professor - O que pensam Alunos, Pais e Professores, Texto Editora, 2000.
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