Os principais problemas do secundário são de natureza Política, Cultural e Pedagógica. Seria interessante analisar as famílias de problemas que se distribuem por cada uma destas áreas, as ligações entre elas e as perspectivas de solução.
Os problemas que afectam o ensino secundário em Portugal vão desde as graves questões de insucesso e de abandono, à ausência de uma verdadeira «cultura do secundário», até à organização e desenvolvimento do currículo (níveis «macro, meso e micro») e à investigação e produção de conhecimento. Não existirão «soluções à medida» para cada um deles nem soluções «rápidas e eficazes». Digo isto porque, como é sabido, as questões educativas são sempre muito complexas. Envolvem uma miríade de sistemas, têm uma natureza dinâmica e abrangem milhões de pessoas. Por isso, as soluções nem são fáceis de encontrar, nem perduram o tempo que desejaríamos. É evidente que o que foi dito não pode impedir-nos de: compreender a natureza dos problemas; pôr em prática estratégias que ajudem a resolvê-los; e de avaliar regularmente o que se vai fazendo. Precisamente o que tem faltado nos últimos três anos. Não me recordo de alguma vez ter assistido à inoperância, à desorientação e mesmo à falta de conhecimento e competência que tem caracterizado estes últimos três anos. As escolas, os professores e os serviços nunca estiveram tão abandonados e entregues a si próprios! Os principais problemas do secundário são de natureza Política, Cultural e Pedagógica. Seria interessante analisar as famílias de problemas que se distribuem por cada uma destas áreas, as ligações entre elas e as perspectivas de solução. Uma vez que, por limitações de edição, tal não é possível, optei por seleccionar oito linhas estratégicas de desenvolvimento do secundário que discuto telegraficamente. 1.Identidade e cultura. O secundário tem que ser uma plataforma de boas oportunidades oferecidas por escolas que possuem um elevado potencial educativo e formativo, tem que ser um ciclo de formações com valor em si mesmo, diversificado, flexível e melhor articulado, com o básico, o superior e a sociedade. 2.Democratização. As práticas de orientação, ensino e avaliação desempenham um papel crucial na integração de todos os alunos, tal como a diversificação e flexibilidade de percursos. Os alunos não podem sair do secundário sem quaisquer qualificações! 3.Organização e funcionamento. As escolas devem assumir os seus projectos e as suas vocações, ser mais abertas à sociedade, à inovação e à avaliação e auto-avaliação dos seus processos e resultados. Melhorar a sua gestão e administração é uma prioridade a assumir por todos. 4.Formação de professores. O investimento essencial tem que ser nas áreas técnicas, científicas e tecnológicas, nas didácticas, na avaliação e na administração e gestão das escolas. 5.Orientação. O desafio é integrar a orientação nas rotinas das escolas e não confiná-la a consultas de gabinete. É uma matéria que tem que envolver TODOS em torno de projectos e acções concretas. 6.Financiamento das escolas. É uma matéria que precisa de ser posta na agenda e que tem um papel determinante no que queremos que venha a ser o ensino secundário. O modelo de financiamento tem que se ajustar aos projectos concretos das escolas e tem que estar ao serviço da inovação e da melhoria das formações. 7.Acção social escolar. Deve ter um papel decisivo no aumento do número de alunos nos cursos tecnológicos e profissionais. Tem que se articular melhor com a realidade social das escolas e melhorar procedimentos que garantam que os financiamentos são dirigidos a quem realmente deles necessita. 8.Rede de ofertas. Tem que ser mais flexível, dinâmica e melhor articulada entre si e com as outras redes de formação secundária e pós-secundária. As associações de escolas secundárias, que deveriam ser incentivadas e criadas, podiam ter aqui um papel relevante numa rede mais orientada para as necessidades dos alunos e das comunidades. Precisamos de um ensino secundário que prepare os jovens para um mundo mais incerto e inseguro e em acelerada transformação. Um mundo em que a dimensão económica vai permanecer importante. Por isso mesmo a Escola Secundária do Futuro tem que proporcionar a todos os que a frequentam uma educação em que as dimensões sociais e humanas ocupam um lugar necessariamente destacado.
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