De acordo com dados do Eurydice, o serviço de estatística da União Europeia (UE), existirão actualmente nas escolas dos países da UE, em média, cerca de 6 por cento de alunos estrangeiros em idade escolar. O número de alunos imigrantes tem vindo a crescer, e espera-se que continue a crescer, nas escolas portuguesas. É uma nova realidade a exigir atenção e respostas sérias. A carta que aqui se publica, enviada por uma professora e com o apoio de um grupo de professores da Escola Garcia de Orta, levanta questões que é obrigatório debater. Fica a carta aqui publicada sendo para o nosso jornal uma chamada de atenção para que este tema venha a ter desenvolvimentos futuros.(1)Com base nesta experiência e noutras de que possamos ter conhecimento.
Sou professora do 8º grupo B da Escola Secundária Garcia de Orta, Porto, e estou, neste momento a acompanhar dois alunos ucranianos, na consecução de um projecto de apoio a alunos estrangeiros implementado nesta escola e levado a cabo por professores com disponibilidade horária. Infelizmente o resultado deste trabalho tem-se revelado muito insuficiente por várias razões, a começar pela carga horária dos próprios alunos, obrigados a frequentar o currículo completo do ano em que estão inscritos. A estes alunos foi dada equivalência para frequentarem o 7º e 12º anos, respectivamente, sem que aos mesmos tenha sido exigido o domínio da língua portuguesa. Concretamente o aluno do 7º ano chegou a Portugal em Agosto de 2004 e no mês seguinte ingressou no 3º ciclo do ensino básico português. Estas equivalências são de facto um presente envenenado. Por muito que estes alunos tenham facilidade na aprendizagem de línguas (e nem todos a terão) não são capazes de acompanhar as aulas em Português. A minha aluna de 12º ano ? uma estudante empenhadíssima que já está a repetir o ano ? não tem qualquer hipótese de entender um Fernando Pessoa, uma Sophia de Mello Breyner? que o programa lhe exige. Por isso perderá de novo o ano. Para além do tempo desperdiçado, que vai ser feito da auto-estima destes adolescentes que apesar de um esforço titânico, acumulam negativas sobre negativas? A estes jovens teria de ser oferecido um curso intensivo de Português, de carácter obrigatório, antes de lhe ser dada qualquer equivalência o que não seria difícil se agrupassem todos aos alunos que estão nestas condições numa única escola em cada cidade. Desta maneira estaríamos, de facto, a contribuir para o sucesso destas crianças e jovens e poderíamos, em boa consciência, estar satisfeitos pelo acolhimento dispensado aos imigrantes. Em vez disso, dão-se equivalências que são uma forma hipócrita de resolver o problema dos estudantes imigrantes ou estrangeiros. Informamo-nos na nossa escola sobre a hipótese de um currículo alternativo para minimizar a gravidade da situação dos nossos alunos. Não há nada que se possa fazer, porque a sua situação não está prevista! Num país que já foi um país de emigrantes, que sentiu na pele a descriminação e que agora se tornou num país de imigrantes não há nada previsto para ajudar os alunos estrangeiros a integrarem-se de uma forma racional e eficaz na escola portuguesa! Esta preocupação que não é só minha, mas de muitos professores que vivem de perto a situação dos alunos imigrantes. Comigo assinam esta carta outros professores desta escola que uma experiência semelhante à minha.
Subscrevem: Maria Gagliardini Graça - presidente do Conselho Executivo Rosa Vide, 10º grupo A - directora de turma de um aluno ucraniano Manuela Costa - directora de turma de uma aluna ucraniana Conceição Pinto da Rocha - professora e bibliotecária da Esc Sec Garcia de Orta Celeste Silva, 8º grupo A) Maria Manuela Vale - professora de aluna ucraniana do 12º ano Alberto Santos Silva - psicólogo
Nota: 1) Os professores que tenham experiência desta problemática podem contactar-nos contribuindo desse modo para uma abordagem mais próxima e profunda e do problema.
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