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Europass CV apresentado no Luxemburgo

O jornal a PÁGINA esteve presente, no Luxemburgo,  na apresentação do Europass CV. Um conjunto de documentos que pretendem servir de modelo para a elaboração de um currículo uniforme, para candidatura a emprego, que seja reconhecido e aceite em todo o espaço europeu. Uma proposta da actual presidência europeia que abordaremos nesta reportagem.

Mobilidade, mobilidade, mobilidade

Grande Ducado do Luxemburgo. O coração verde da Europa central. A vista aérea não podia ser mais esclarecedora do slogan com que o país se apresenta. Uma manta de retalhos castanhos de terra e verdes de cultivo entremeadas com hectares de árvores.
Juntamente com Bruxelas e Estrasburgo, a cidade do Luxemburgo é uma das três capitais da União Europeia e acolhe algumas das suas instâncias: o Tribunal Europeu de Justiça, o Tribunal de Contas, o Banco Europeu do Investimento e uma parte dos serviços da Comissão Europeia como o departamento de publicações oficiais, a direcção-geral de tradução, o órgão estatístico das comunidades europeias (Eurostat) entre outros.
Até ao final de 2005, cabe ainda ao Luxemburgo a Presidência do Conselho da União Europeia. Toda, ou até ver grande parte, da actividade comunitária está centralizada fisicamente num espaço o Centro Europeu. É para lá que nos dirigimos rumo à apresentação do Europass CV. Um conjunto de documentos que pretendem servir de modelo para a elaboração de um currículo uniforme, para candidatura a emprego, que seja reconhecido e aceite no espaço europeu. Algo de que falaremos mais adiante.
A quatro quilómetros desta "zona euro" encontra-se o centro da cidade com os seus palácios neoclássicos e catedrais barrocas, o comércio tradicional e a restauração típica. Ao jantar, muitas horas mais tarde, faremos uma visita a um desses restaurantes para provar o Cordon Blue. Mas agora é preciso chegar ao Centro Europeu onde para além dos edifícios oficiais relacionados com a dinâmica da União Europeia se erguem dois hotéis. Entre eles se divide o staff europeu sempre em diáspora. Uma avenida divide esta zona de uma outra residencial, uma espécie de subúrbios, sem nenhum sentido pejorativo. Mas toda a área envolvendo e alastrando-se ao Centro Europeu está em obras. Intervenções para melhor acolher a União e talvez ainda a  Presidência.
Um dos maiores construtores do país é português, diz-me Nuno, um taxista de 47 anos nascido em Coimbra e que apesar de ter imigrado na década de 80 nunca chegou verdadeiramente a gostar do país. ?É muito frio??, justifica-se. Três graus negativos. O seu filho, nascido e criado no Luxemburgo, já não quer sair do ducado. Estuda Gestão e vai contrariar a vontade ao pai de o ver fazer o curso universitário em Portugal. A permanência do filho adiará o regresso do pai. A casa construída na sua terra Natal com os euros luxemburgueses vai continuar de férias. E o dinheiro investido na empreitada já concluída pesa agora em arrependimento ao taxista. ?Vou acabar por ter de comprar uma casa para ele viver aqui!?
Não cruzar com um português no Luxemburgo, é quase tão impossível como não encontrar portugueses a veranear em Sanxenxo, a capital turística da Galiza. É em meados dos anos 60 que a imigração portuguesa conhece um forte impulso para o Luxemburgo,  porém trata-se de uma vaga secundária de trabalhadores vindos da Bélgica e da França. Quase a chegar aos anos 70 a imigração torna-se primária com a chegada em massa de assalariados vindos directamente de Portugal.
Hoje, a comunidade portuguesa representa 14% da população residente no Luxemburgo. Essa é a peculiaridade do país. Num total de 448.300 habitantes, 38% são de nacionalidade estrangeira sendo a portuguesa a mais significativa, seguem-se a francesa (5%) e  a italiana (4%). Os residentes oriundos dos países limítrofes, Bélgica, França e Alemanha perfazem um total de 11% da população estrangeira.
De volta às obras caóticas no Centro Europeu. Imagine-se o "estaleiro" da Expo 98 de Lisboa ou o do Metro do Porto, como preferirem. Agora tripliquem-se os trabalhos concentrados no dobro da área. Desça-se bastante a temperatura. Acrescente-se muita lama, mas não se espere vê-la nas fotografias gentilmente cedidas pela Comissão Europeia. Os habituais camiões em constante carga e descarga de materiais. As gruas gigantescas. O barulho ensurdecedor apenas aplacado pelos vidros duplos dos edifícios... E mesmo assim, a realidade ficará aquém da descrição. Ainda assim arriscamos a dizer que, quando tudo estiver pronto, o local será aprazível e seguimos caminho para o hemiciclo onde será apresentado o Europass CV. 

Mobilidade

É o conceito mais caro à União Europeia. Mobilidade. Nela se jogam os principais programas europeus nas áreas da educação, formação ao longo da vida e emprego. 
Potenciar a mobilidade, dos jovens, dos estudantes, dos professores, dos trabalhadores, dos cidadãos. Neste contexto se insere o Europass CV, um currículo uniforme, dentro do espaço europeu, para a apresentação dos dados pessoais e formativos do candidato a um emprego. Na prática, o Europass resulta da junção facultativa de cinco documentos: CV Europeu, formulário de apresentação de qualificações e competências; Passaporte de Línguas, documento relativo aos conhecimentos de idiomas; Europass Suplemento do Diploma universitário; Europass Suplemento ao Certificado de educação e formação profissional e Europass Mobilidade, um registo das experiências de mobilidade para fins de estudos ou formação profissional no estrangeiro.
Euro, por razões óbvias. Pass, a querer lembrar em português "passe" porque o objectivo do programa será "ajudar os cidadãos que pretendam mudar de situação, independentemente dessa mudança envolver ou não uma mobilidade geográfica", lê-se numa brochura alusiva. De que modo? Supondo que a clarificação do modo como se apresentam as qualificações e competências acaba por valorizar o processo de candidatura. 
Ján Figel, Comissário Europeu para a Educação e Multilinguísmo dá uma explicação na primeira pessoa: "Analisei muitas candidaturas de cidadãos de vários países para trabalhar no comissariado e havia tantos estilos diferentes de documentação e currículos que se todos usassem o Europass essa tarefa teria sido mais fácil."  Por isso Figel não hesita em afirmar que "esta transparência na apresentação será muito útil às empresas " e "um passo para conseguir melhores oportunidades de negócio na Europa".
Transparência não significa, contudo, reconhecimento. O uso dos cinco documentos que o compõem está limitado às situações onde não é necessário o reconhecimento legal das qualificações profissionais. Ainda que ao nível da certificação académica possa facilitar o trabalho das autoridades nacionais. Questionado sobre este senão, pela PÁGINA, Ján Figel, manifestou o interesse do Comissariado em ver a questão do reconhecimento legal resolvida, no entanto, deixou claro que caberia às entidades nacionais actuar nesse sentido. Caberá também às Agências Nacionais Europass, a funcionar até Junho deste ano, a promoção do programa cujo financiamento será comunitário.

Criticas

No hemiciclo, entre a assistência fomos encontrar Izabela Jurczik  e Robert Tesh, directores de recursos humanos e de projectos da Associação dos Estados Gerais dos Estudantes da Europa  (AEGEE) www.aegee.org , com assento no Fórum Europeu de Estudantes. Sediada em Bruxelas e a comemorar este ano o seu vigésimo aniversário, a organização conta com cerca de 17 mil membros e tem em curso vários projectos de cooperação e desenvolvimento em 36 países da Europa geográfica, incluindo Turquia, Balcãs, Cáucaso, Rússia e Chipre.
Izabela Jurczik  e Robert Tesh acompanharam as várias sessões onde se apresentaram todos os documentos do Europass CV e ficaram desapontados com o que dizem ser a "falta de espaço no currículo para a valorização de experiências de mobilidade informais", resultantes da participação em programas não comunitários como os que realizam. "Até que ponto esta estrutura formal deve ser promovida se o objectivo é encorajar a flexibilidade?", questiona Izabela. A resposta surge no decorrer de uma conferência.  "O formato é simples e pragmático", sublinha Joan Van Rens, director do Centro Europeu para o Desenvolvimento da Formação Profissional (CEDEFOP).
A estas críticas juntam-se outras que põem em causa a utilidade do programa. A adesão por parte das empresas, a divulgação eficaz ao nível nacional. Mas como sublinham os defensores do Europass "não se trata de um documento estanque", pelo que poderá ser melhorado. Para os mais cépticos Joan Van Rens recorda: "Uma semana depois de na conferência de Lisboa (2000) ter sido pedido um CV europeu para favorecer a mobilidade e apoiar os empregadores, o Financial Times, dizia a propósito que 'não havia limite para o tratamento das pequenas coisas na União Europeia'. Hoje mais de 2 milhões de europeus já fizeram o download [http://europass.cedefop.eu.int] do Europass CV sem que tivesse havido divulgação." O passo europeu está dado. Resta esperar pelo arranque das campanhas nacionais.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 143
Ano 14, Março 2005

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação

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