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A escola, os pais e a inclusão

Meus professores diziam que as crianças precisavam de autonomia e que o apego aos pais era uma barreira. Eu até conseguia convencer alguns pais disso, mas as crianças não entendiam por que teriam que ficar longe da família e ainda achar bom.

Quando eu era professora da pré-escola, no Brasil, o ?período de adaptação? dos alunos era um verdadeiro terror. Nas primeiras semanas de aula, os pais podiam ficar algum tempo na classe com os filhos. Tão logo tinham que sair, era um chora daqui, um berra de lá, outro que esperneia e tenta fugir, uma mãe que diz adeus aos prantos, outra que arrasta o filho sala adentro? e aqueles que estavam quietos, dá para entender que desembestassem também a chorar.
Passada esta ?adaptação?, família era do portão para fora.
Naquela época, vigoravam os valores da escola tradicional. Meus professores diziam que as crianças precisavam de autonomia e que o apego aos pais era uma barreira. Eu até conseguia convencer alguns pais disso, mas as crianças não entendiam por que teriam que ficar longe da família e ainda achar bom. No fim, elas até se acostumavam (mas que não entendiam, não entendiam).
Salvo excepções, a escola em geral excluía a comunidade, a família, os portadores de deficiências e assim por diante. Na pré-escola, o mal era menor, mas quanto maior o grau de escolaridade, maior era a exclusão dos pais. Estes estavam presentes apenas quando formalmente convidados para uma festa ou reunião, e o seu empenhamento era avaliado, pela escola, segundo este único momento de participação. Mas? como querer que os pais se comprometessem com uma situação dentro da qual eles eram um ?corpo estranho??
Em pouco tempo, a integração tornou-se o valor dominante. Alguns projectos, novos e já existentes, receberam contornos diferentes e envolveram a comunidade ao entorno da escola. Hoje, a qualidade da participação da família está melhor, sem dúvida. Porém, se por um lado é verdade que os projectos existem, por outro lado também é verdade que a adesão dos pais está longe do desejado. Estão mais comprometidos, mas continuam sendo considerados um ?corpo estranho?. Será que o problema está nos projectos? Na competência dos professores em envolvê-los? Na recusa dos pais à participação? No sistema educativo e social que é, de per si, excludente?
Talvez a resposta esteja no facto de que uma escola inclusiva só se faz numa educação e numa sociedade também inclusivas, o que subentende não apenas a inclusão de alunos com Necessidades Educativas Especiais na escola regular, mas também a parceria da comunidade e da família que, ao fim e ao cabo, recai sobre a figura dos pais.
Recentemente, testemunhei um exemplo de como esta ?inclusão dos pais na escola?, apesar de muito difícil, pode ser possível. Passou-se numa pré-escola de Inglaterra, país onde a inclusão (depois de longa jornada e ainda com problemas), está bastante desenvolvida. A professora, enquanto me contava a sua rotina de trabalho, recebia as crianças que iam entrando na sala de aula, sempre acompanhadas dos pais. A aula começou pontualmente, mesmo antes de todos os pais se terem retirado. Com estranheza, notei que a classe ao lado tinha três professoras, e perguntei:
? Por quê aquela classe tem três professoras?
? Tem uma professora só ? respondeu ela. ? É aquela que está de pé. As outras duas são mães.
? Mães??!!!! Mas? a presença delas faz parte de algum projecto da escola?
? Não ? respondeu, com a maior serenidade do mundo ? elas vêm para ajudar, quando podem.
Ora, se a presença dos pais na escola é natural, faz parte do quotidiano, não representa uma ameaça, então, para quê projectos? Só tomamos medidas diante das nossas carências ? e aquela escola não carecia, de maneira nenhuma, da participação dos pais.
Não posso avaliar o caso da Inglaterra, mas, no Brasil e em Portugal, países onde tenho vivido, os projectos são necessários porque os alunos com condição de deficiência ainda são a ?pedra no sapato? dos professores, as minorias étnicas ainda são os ?estranhos? jogados nos cantos das classes e a família ou está divorciada da escola ou dorme em quartos separados.
Não se concebe uma escola inclusiva onde os pais estejam tão apartados que só são chamados quando os seus filhos têm problemas ou se portam mal. Nem se concebe a ?intromissão? dos pais, permitindo-os mandar no âmbito educativo que é de responsabilidade da escola. Concebe-se, isto sim, que a participação deles seja uma constante, mesmo que a forma desta participação varie.
Para ser mais inclusiva, a escola precisa aprender, urgentemente, a se transformar de tal forma que os pais se sintam também incluídos, co-responsáveis pelo desenvolvimento dos seus filhos, da própria escola e da comunidade.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 143
Ano 14, Março 2005

Autoria:

Luzia Lima-Rodrigues
Centro Unisal, Brasil. Instituto Piaget, Portugal
Luzia Lima-Rodrigues
Centro Unisal, Brasil. Instituto Piaget, Portugal

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