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A vida de um "bad boy"

Não me canso de me espantar quão poucos bons livros se escreveram e publicaram sobre filmes e sobre as pessoas que os fazem. Pior ainda se pensarmos em actores. Quase nada se escreveu sobre a interpretação para as câmaras. Quais as hipóteses então de um livro sobre Sean Penn - considerado, e quanto a mim bem, o melhor actor da sua geração, o herdeiro de um título que já pertenceu a Brando, Nicholson e De Niro- ser no mínimo aproveitável? Usando a técnica da história oral - o livro é composto quase inteiramente por entrevistas montadas com inúmeros amigos, familiares e colegas- Richard Kelly produziu uma biografia honesta, informativa e ?engagé? quanto é possível imaginar que um livro sobre Hollywood possa ser. E mais, conta mais sobre o que é ser actor de cinema hoje do que qualquer outro livro que eu conheça.
È de dizer antes de tudo que quase toda a gente aparece e fala candidamente: a mãe, os antigos parceiros de surf, amigos e colegas, entre eles Woody Alen, Jack Nicholson, Angelica Huston e Benicio del Toro. Sem surpresa, a primeira Mrs Penn - Madonna para vocês e para mim - não aparece, embora o livro fale abundantemente da sua tempestuosa relação.
De facto, para alguém que em tempos foi lendário na sua relação com os ?paparazzi?- e que por isso passou algum tempo na prisão -, o livro é extremamente intimista. Exceptuando aquelas ?wild stories? das cenas de pancadaria no ?set? e conjugais, que em tempos foram ouro para os tablóides e que são contadas como tristes e humanas por aqueles que nelas participaram.
Segundo a sua mãe, Sean sentia-se ?sempre embaraçado por ter tido uma infância feliz...penso que queria identificar-se com os outros que estavam do outro lado, sentia-se mal pelas pessoas que estavam mal, e queria dizer-lhes: ?Eu sei o que estás a passar, embora tu penses que não posso?.
Os pais de Sean são a chave para o entender. Ambos eram actores da Broadway de esquerda no final dos anos 40. O pai, um herói de guerra  que viu a sua carreira soçobrar, foi colocado na lista negra por participar num ?meeting? onde um ?conhecido comunista? estava a falar. A cicatriz que esta injustiça deixou em Penn Jr não deve ser subestimada. A partir daí, sempre que a oportunidade surge aproveita-a para mostrar que os valores da esquerda, humanistas que os seus pais defendiam - e que ele adoptou - são o oposto dos valores ?não-americanos?.
Os três filmes que realizou e muitos dos filmes que ele escolheu interpretar - estou a pensar em, por exemplo, ?Bad Boys?, ?At Close Range?, ?Dead Man Walking?, ?The Thin Red Line? e o que o levou ao Oscar o ano passado ?Mystic River?- parecem pertencer a uma passada  era  do Cinema, a de Elia Kazan, Otto Preminger e Samuel Fuller, nada tendo a ver com o mundo escapista de Jerry Bruckheimer e Will Ferrel.
 Este livro termina com um capítulo sobre as duas visitas de Penn a Bagdade no ano passado, onde expressou a sua solidariedade com o ?iraquiano comum?. Esta ? missão à procura de factos? foi ridicularizada e  mal compreendida por grande parte da  imprensa americana,  segundo a qual ?os actores devem limitar-se a sê-lo e deixar a política para os crescidos.?. Como refere Peter Coyote no livro: ? Uma posição hipócrita de merda. Na América temos  ?mass media? inteiramente dedicados à vida dos actores. Temos revistas que se dedicam exclusivamente aos locais onde as celebridades compram...tudo o que as celebridades fazem ou dizem nos fascina, excepto as suas opiniões políticas... porque a sua opinião política pode trazer problemas ao ?merchandising?.?
Se quiserem saber porque é que realmente há gente que faz filmes, o que a motiva , não como celebridades ou  para apenas ganhar dinheiro...então devem ler este livro.
Sean Penn : His Life and Times


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 143
Ano 14, Março 2005

Autoria:

Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto
Paulo Teixeira de Sousa
Escola Secundária Especializada de Ensino Artístico de Soares dos Reis, Porto

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