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Nomes de domínio na Internet e as escritas das diferentes línguas

Nos últimos dois anos foi possível aprovar normas sobre a escrita de nomes de domínio em alfabetos e escritas que não a ASCII (American Standard Code for the Information Interface) - embora devendo, para tal, ser vencida a pertinaz relutância de boa parte da comunidade técnica Internet tradicional.

A questão das diferentes línguas e a forma como são escritas tem um impacte muito importante no novo mundo da Internet, no ser ou na condição digital - em oposição à analógica condição anterior -, como alguns acham dever referir, sobretudo os menos próximos da sua crua concretização tecnológica. Com efeito, o poder ou não poder utilizar o alfabeto ou a escrita que a cada mais convém, ou melhor, que a cada um pertence, pode constituir um factor de info-inclusão ou de acessibilidade electrónica ou, pelo contrário, de info-exclusão ou de não acessibilidade electrónica, para empregar o calão profissional [e mediático] digital ou informacional. 
Certo, nesta nova situação é a escrita desempenhar um papel fundamental, constituir mesmo uma sua base estruturante. Certo ainda, é a escrita - essa invenção maior da espécie humana -, os seus sinais, serem digitais por condição, portanto, serem produzidos e vistos digitalmente, ao contrário do que acontece com a voz ou com os sons musicais, que são ouvidos analogicamente, ou com as imagens que são vistas também sob forma analógica.   
E sendo verdade que se pode dizer não existir discriminação de alfabetos e escritas ao nível do texto das mensagens ou do conteúdo apresentado nos sítios, já o mesmo não está resolvido de forma completa ao nível dos nomes de domínio (domain names), isto é, dos nomes identificadores dos sítios e dos endereços de email. Para nós, portugueses, que usamos um alfabeto latino para nos expressarmos, as faltas sentidas poderão ser menores e até divertidas (escrever ?inovacao? em vez de ?inovação?, ?goncalves? em vez de ?Gonçalves?, ?liborio? em vez de ?Libório?). Picuinhas dirão, sobretudo os que têm posses para trabalhar e viver online; saberão alguma coisa de inglês e não se preocupam em usar um alfabeto com o qual ganham três letras - k, y, w - e, dirão ainda, apenas perdem umas quantas sinalefas sem importância: o til, o circunflexo, o agudo, o grave e a cedilha.   
Que serão picuinhas, parece mostrá-lo a relativa despreocupação dos detentores de outros que empregam outras versões de alfabetos latinos, como os franceses, os espanhóis, os alemães, os nórdicos, os europeus de centro e leste e mesmo os brasileiros, por norma tão interessados na defesa e na presença da língua portuguesa. Ou também os que utilizam os alfabetos gregos e cirílicos, afinal não tão diferentes dos caracteres latinos e, também afinal, praticantes e deglutidores do inglês e, acima de tudo, dos nomes das empresas e marcas ocidentais.
Mas, de facto, não o são, não são picuinhas. Senão vejamos o movimento que se desenvolveu na Ásia, em torno de escritas ideogramáticas como a chinesa, o coreano, o japonês, o tamil - este, aliás, a partir de activistas desta minoria cingalesa residente em Singapura! Ou o movimento dos escreventes da grande área árabe. Ou o movimento em torno da escrita das línguas do continente africano - excluindo, portanto, as línguas coloniais como o francês, o inglês, o português e, mesmo, o árabe, como diziam linguistas e internetistas de África no workshop sobre ?Nomes de Domínio Internacionalizados? - IDN (Internationalized Domain Names) realizado por ocasião de uma reunião mundial da Internet na Cidade do Cabo, em princípios do mês de Dezembro de 2004.
Entretanto, já se registam progressos nesta área. Nos últimos dois anos foi possível aprovar normas sobre a escrita de nomes de domínio em alfabetos e escritas que não a ASCII (American Standard Code for the Information Interface) - embora devendo, para tal, ser vencida a pertinaz relutância de boa parte da comunidade técnica Internet tradicional.
Contudo, a luta dos defensores do uso de IDNs continua. Com efeito, de momento estes apenas são permitidos para os níveis inferiores ao segundo, incluindo este. Quer dizer, à direita do último ponto dos endereços, para os primeiros níveis - os famosos TLDs, TopLevel Domain-names - tal ainda não é dado fazer; isto é, para os ?.com?, ?.net?, ?.pt?, e mesmo para casos como o da china ?.cn?, só é possível utilizar o código ASCII.


  
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Edição:

N.º 141
Ano 14, Janeiro 2005

Autoria:

Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom
Francisco Silva
Engenheiro, Portugal Telecom

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