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Jovens fogem da matemática na terra de Galileu

A Itália (?) quer estimular o estudo de matérias como a matemática e a física através da atribuição de bolsas de estudo no estrangeiro, inclusive nos Estados Unidos, para que tais disciplinas se tornem "menos frias".

Há vinte anos, em Florença, o italiano Enrico Giusti dava lições diante de centenas de estudantes, mas actualmente, esse distante sucessor de Galileu ensina matemática numa sala quase vazia, vítima da falta de interesse dos jovens pelas disciplinas chamadas científicas.
"Tenho apenas 30 a 35 alunos, enquanto que em psicologia, comunicação e arquitectura há milhares", disse à AFP Giusti, fundador de um pequeno museu dedicado à magia das equações e dos teoremas "para inverter a moda", disse.
O mal-estar é tão evidente que o Ministério da Educação italiano decidiu atribuir para os próximos três anos cerca de 8,5 milhões de euros destinados a fomentar os estudos científicos.
Nas universidades, os estudantes das carreiras científicas passaram de 28.907, em 1986, para 7.106, em 2000.
A Itália, que conta entre as suas maiores personalidades físicos do valor de Enrico Fermi, um dos inventores da bomba atómica, quer estimular o estudo de matérias como a matemática e a física através da atribuição de bolsas de estudo no estrangeiro, inclusive nos Estados Unidos, para que tais disciplinas se tornem "menos frias".
Um festival dedicado à ciência está a ser levado a cabo em Génova, onde se realizarão durante doze dias conferências, espectáculos e oficinas, com a participação do público.
As faculdades que perdem mais estudantes são as de Química, Física e Matemática.
Para muitos, as causas dessa deserção são as poucas perspectivas futuras que oferecem tais profissões.
"A imagem do professor de matemática está desprestigiada", admite Giusti.
"Os jovens entendem a matemática como algo difícil e que não oferece compensações imediatas", assegurou o professor, autor do livro "A matemática na cozinha".
Com o seu livro aprende-se a fórmula para cozinhar uma carne no forno e explica-se a razão pela qual as batatas grandes se descascam mais rápido do que as pequenas.
"Estamos à beira de uma crise, mas no entanto há bons alunos que querem  investigar. O problema é que o sector público não lhes oferece nada", comentou o professor após recordar os protestos de 2003 dos investigadores pela ausência de fundos para o sector da investigação.
Os governos cortam no investimento público em investigação, reduzem os postos de trabalho neste campo e depois gastam dinheiro em campanhas de promoção do «gosto pela ciência».
"Não digo que os italianos não adorem a matemática, e sim, que estão  a deixar de amá-la", assegurou o físico Enrico Predazzi, presidente da Conferência de Decanos das Faculdades Científicas.
"Muitos crêem que se pode viver sem a ciência e que a Itália pode  converter-se no jardim do mundo, graças ao turismo. Sem dúvida, os estudos demostram que a investigação científica está intimamente relacionada com o progresso e a riqueza de um país?, acrescentou.
Além dos estudiosos, também os industriais estão preocupados com a falta de inovações e criatividade no sector. Mas estas preocupações e queixas não têm levado a que invistam, também eles, na investigação e inovação.
Tendo em vista o problema, as autoridades consideram o aumento das horas de estudo da matemática e física para os alunos do ensino secundário e a criação de um banco de bolsas para o sector. Alguns esperam que a formação de cursos novos com diplomas mais atraentes, com novos métodos e mais laboratórios, desperte os herdeiros do grande astrónomo que noutros tempos teve que se sacrificar pela ciência.


  
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Edição:

N.º 140
Ano 13, Dezembro 2004

Autoria:

Claudine Renaud

Claudine Renaud

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