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Ideias, ideias ideias: marca a tua posição! Sê um cidadão empreendedor na batalha da tua nação na economia global

Quando Tony Blair lançou a agenda para a mudança do Novo Trabalhismo, o seu canto de vitória em 1997 - educação, educação, educação - era a palavra de ordem. Para a administração de Blair, a educação de qualidade seria não só um direito social para todos os cidadãos, como também os investimentos em educação contribuiriam para melhorar os níveis de produtividade nacional. O que, por seu turno, forneceria a base para melhores serviços públicos.
Sete anos depois, uma nova palavra de ordem encontra-se a emergir, em aparente sintonia com o estilo geral do ?discurso da economia do conhecimento? - ideias, ideias, ideias. É como se estivéssemos cansados dos cabeçalhos dos jornais e apenas ontem.  No início deste semana, o ministro das finanças, Gordon Brown, lançou a primeira ?Semana do Empreendedorismo? do Reino Unido no intuito de incitar os jovens a partir dos quinze, vinte, anos a serem empreendedores e inovadores. Sob a insígnia Marca a Tua Posição ? Começa a Desenvolver Ideias, o objectivo da campanha é o de dar o pontapé de saída a uma cultura mais empreendedora entre os jovens britânicos. 
Na mesma semana, o ministro tinha estado envolvido na promoção da ideia de empresa na Conferência Anual da Confederação da Indústria Britânica. Pugnando contra aquilo que designou as regras inflexíveis impostas pela UE, como as directivas sobre o tempo de trabalho e as agências dos trabalhadores, o ministro Brown anunciou que o Reino Unido iria estabelecer um conselho nacional para empresários graduados pelas universidades, assim como iria ser formada uma aliança transatlântica para encorajar as empresas no sentido de construir uma cultura empresarial do tipo da que existe nos Estados Unidos. A Grã-Bretanha, argumentava ele, estava a ser ultrapassa por Singapura e pela Coreia em termos de investimentos em I&D. A Grã-Bretanha, acrescentava ele, estava a sofrer pressões crescentes da Índia e da China ? a Índia está a produzir 125 000 licenciados em informática por ano, enquanto que o Reino Unido produz apenas 5 000. Segundo Brown, este facto permitirá à Índia vender serviços a muitas empresas que de outro modo poderiam procurar trabalho e competências nas empresas do Reino Unido.
Inovação e competências são, para Brown, as duas principais alavancas para o sucesso da economia moderna. E, neste cenário, a inovação depende das ideias. De muitas ideias. No futuro visonado por Brown, as escolas serão laboratórios para gerar ideias, para encorajar atitudes ? uma atitude empreendedora no sentido de gerar uma cultura empreendedora. Aqui, na Grã-Bretanha, podemos ver todos os tipos de iniciativas com o intuito de cultivar e fazer crescer ideias e empresas; pequenos laboratórios como o  Future-Lab (Laboratório do Futuro) e Knowledge-Lab (Laboratório do Conhecimento), esforçando-se por desenvolver a última invenção; um design mais avançado, um avanço tecnológico. Pacatas cidades do interior estão a tornar-se Cidades Academias ? com a missão de formar parcerias com as empresas no sentido de desenvolverem abordagens inovadoras da aprendizagem. 
Levar à bolsa as ideias, parece ser o nome deste jogo, isto é, trata-se de saber como marcar uma posição. Como escreveu o sociólogo da Universidade de Bristol, Tom Osborne, os think tanks do Partido Trabalhista como o Demos, ou universidades como a London School of Economics, que a certa altura aconselhava, na qualidade de especialista, o governo e a comunidade em geral, centram crescentemente os seus esforços no negócio, em fazer as coisas andar e sempre com algumas ideias prontas. Num mundo em que as próprias ideias são moeda, as ideias devem ser capazes de chamar a atenção, conjugar e justapor pessoas e ideias para fazer a diferença, gerar um ruído que, por seu turno, levará a novas combinações de ideias. A inovação advém do infindável ciclo da combinação de ideias para assim se criar mais novas ideias. As ideias bem sucedidas produzem um rápido lucro e desvanecem-se, sendo, mais adiante, substituídas por uma nova ideia, por uma nova inovação. Tudo isto soa algo estranho ? uma viragem cultural no nosso pensamento económico. À famosa divisa pós-industrial de Daniel Bell O Conhecimento ao Poder! Ok!, poderemos agora acrescentar-lhe um post scriptum: Criatividade e Ideias Também! Ok! 
Portanto, qual é a relação entre estas três coisas: conhecimento, criatividade e ideias? Parece-me que criatividade e ideias, à medida em que se vão ligando aos discursos e às práticas da economia do conhecimento, são formas de falar acerca de nós próprios como existindo não só num permanente estado de aprendizagem, como é visível no slogan ?aprendizagem ao longo da vida?, mas também num permanente estado de geração de ideias e de inovação.
Os futuros empresários dos viveiros do ministro Brown, enfrentam, contudo, um certo número de obstáculos ? todos impostas pelo objectivo do governo de perseguir aquilo a que chama educação de qualidade. Todos os períodos lectivos os jovens nas escolas se confrontam com uma bateria de testes sobre a sua capacidade para aprender, de regurgitar, para encontrar factos, para apresentar esses factos conforme dadas regras. Os erros pagam-se caro; uma classificação baixa no registo individual de competências pode agora ser disponibilizado a cada professor e a cada aluno.
O grande paradoxo para o Partido Trabalhista é que, por um lado, eles estão a fechar os espaços para a geração de ideias e de criatividade, ao mesmo tempo que, por outro lado, estão a criar estruturas e espaços para incrementar precisamente as ideias e a criatividade. Talvez fosse bom que a única criatividade que conseguíssemos fosse ligada aos objectivos de gerar ideias para empreender, ao estilo EUA. Mas, a este propósito, não se pode esquecer a última iniciativa empreendedora dos EUA, o Iraque. Há paradoxos que vale a pena confrontar. Às vezes.


  
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Edição:

N.º 140
Ano 13, Dezembro 2004

Autoria:

Susan Robertson
Univ. de Bristol, Grã-Bretanha
Susan Robertson
Univ. de Bristol, Grã-Bretanha

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