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Pedagogia Social, cidade educadora e «especialistas de mãos vazias»

De «mãos vazias», sem trunfos escondidos na manga, sem receitas miraculosas e sem respostas prontas, mas com dedicação, profissionalismo e sentido ético, os educadores sociais podem dar um contributo decisivo na realização prática do ideal de uma educação para todos, durante toda a vida.
(Isabel Baptista. A PÁGINA. Set. 2000)

Quando há quatro anos escrevia um texto intitulado «especialistas de mãos vazias», não adivinhava a força dessas palavras. A expressão não é minha, colhia-a de um texto de Jean Vassileff, e, a avaliar pela opinião de alguns académicos, ao recorrer a ela para designar os técnicos que assumem a pedagogia social como um saber matricial, concretamente os chamados educadores sociais, terei involuntariamente contribuído para o obscurecimento da sua imagem profissional. Porém, parece que os educadores se reconhecem nessa metáfora, de tal forma a têm feito sua. Reproduzida numa multiplicidade de contextos e, tantas vezes, utilizada como «senha» de identificação entre pares, ela continua a servir de pretexto a mensagens vindas por correio electrónico, deste e do outro lado do atlântico.
Surpreendentes testemunhos de um espaço profissional que tem valor e sentido, mas ainda pouco conhecido e reconhecido, esses registos precisam saltar as fronteiras de uma «comunidade virtual», alimentada apenas nos circuitos de comunicação do cibermundo. Por isso estamos aqui, de novo, reforçando o apelo à participação num espaço de escrita profissional que possa funcionar como lugar de encontro, partilha, reflexão e debate. Um espaço que, afinal, só poderia ser este mesmo, o que dá pelo nome de «cidade educadora».
Adoptando a educação como prioridade estratégica nas suas dinâmicas de desenvolvimento, as cidades educadoras constituem um campo privilegiado para a acção dos técnicos capacitados para o trabalho sócio-educativo ? como é o caso destes «especialistas». O seu saber profissional de referência é a pedagogia social, a ciência da educação que tem por objecto de estudo a praxis educativa em contexto social, na pluralidade das suas formas e dimensões. Seja ao nível da educação de adultos; da educação especial; da educação laboral e ocupacional; da educação para o tempo livre; da educação cívica; da educação comunitária; da educação para a saúde; da educação penitenciária; da educação intercultural ou educação ambiental, a função sócio-educativa é equacionada, planificada e reflectida, a partir de um saber teórico abrangente, apoiado no contributo de diferentes ramos disciplinares, como a filosofia, a psicologia, a sociologia ou a antropologia.
Uma mais valia em termos de formação que, paradoxalmente, tende a ser geradora de angústia e frustração. Na verdade, chamados a dialogar com uma pluralidade de técnicos e de serviços, os pedagogos sociais acabam por sentir-se vulneráveis quando confrontados com discursos, aparentemente, mais especializados. O que, de certa maneira, explica a procura crescente de formação pós-graduada, mestrados e doutoramentos. Facto revelador, também, do grau de exigência pessoalmente assumido ao nível do desempenho profissional. Nas escolas, nos centros de saúde, nos hospitais, nas prisões, ou nas associações cívicas, no acompanhamento de indivíduos ou em dinâmicas comunitárias, os educadores desenvolvem uma acção importantíssima na mediação entre pessoas, instituições ou projectos. Assumindo-se como profissionais da relação, trabalham na zona de contacto e de sensibilidade intersubjectiva, ajudando a desenhar uma geografia de proximidade humana, feita de «nós» e de laços comunitários. Deste modo, asseguram que os processos educativos mantenham a ligação ao sentido fundador, ou «centralidade subterrânea», como lhe chamou Michel Maffesoli. Está na hora, pois, de dar visibilidade a esse saber fazer, a essa forma, paciente e discreta, de construir a vida em comum, fundando-a num solo antropológico fundamental.
O apelo fica feito. Escrevam, enviem notícias, textos sobre o que vivem e sentem, sobre o modo como o vivem e sentem, relatos de experiências, propostas, testemunhos de reflexão.
Encontramo-nos aqui, no lugar de sempre.

Educação_social@hotmail.com

  
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Edição:

N.º 139
Ano 13, Novembro 2004

Autoria:

Isabel Baptista
Universidade Católica, Porto
Isabel Baptista
Universidade Católica, Porto

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