CARTA ABERTA AO PRESIDENTE LULA DA SILVA
Prezado Presidente Lula, Espero que esteja bem de saúde e espírito.
Já lhe escrevi diversas vezes sobre a questão da liberação dos transgênicos. Esta avaliação sobre os eventos mais recentes foi escrita pelo meu colega e amigo Jean Marc von der Weid (ler p. 28), que foi do CONSEA até bem pouco tempo e tem acompanhado o assunto como profissional da área e consultor dos agricultores familiares. A constatação das tomadas de decisão mal informadas por parte da Presidência da República é tanto mais grave quanto mais arriscada é a MP assinada por você legalizando a ilegalidade que é o plantio e a comercialização da soja transgênica em todo o território nacional. Espero que estes argumentos sejam suficientemente fortes para fazê-lo rever sua decisão e ouvir as vozes mais abalizadas do mundo científico, econômico e as mais conscientes e organizadas dos movimentos sociais - todas unanimemente contrárias à MP e à liberação dos transgênicos no momento atual das pesquisas. Do ponto de vista econômico, eu me pronuncio com veemência, como profissional, para relembrar que: - a decisão tem o limitado horizonte dos interesses imediatos do grande agronegócio e da fome de divisas do Ministro Palocci, voltada apenas para a visão estreita da estabilidade e da governabilidade através do pagamento em dia das dívidas financeiras e do clima propício para os investimentos estrangeiros no Brasil; - a decisão institui um verdadeiro monopólio por uma só empresa, a Monsanto, em dois produtos, o químico glifosato e as sementes geneticamente modificadas, que não se reproduzem e geram uma dependência comercial permanente e insuperável dos agricultores que as adotarem: "sementes que já nascem mortas"! Isto não é bom nem para o capitalismo, cujo princípio de livre mercado é negado por uma empresa autocrática, apoiada pela cumplicidade do poder público a serviço do seu interesse privado; - o discurso de que aumentado a quantidade exportada de soja o Brasil estará mais confiável e terá mais recursos para importar e para equilibrar sua conta de capitais só é verdadeira no estreito curto prazo, e coloca o país numa situação indesejável de vulnerabilidade externa ainda maior a médio prazo; e isto num setor em que incide diretamente a questão da segurança e da soberania alimentar! Os mercados europeu, japonês e chinês certamente recusarão, agora ou mais tarde, os nossos produtos transgênicos, e perderemos mercados que têm um imenso potencial de demanda para produtos do Brasil! Espero que estes argumentos, e os contidos no texto de Jean-Marc, estimulem o Presidente a reconsiderar sua decisão!
Atenciosamente, Marcos Arruda
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