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Psicólogos desorientados

ANTE PROJECTO PARA A EDUCAÇÃO ESPECIAL

As reformas da Educação em Portugal sempre se caracterizaram por serem feitas ?à lá gardére? ou ?à trouxa- mouxa?, completamente ao sabor dos ?jobs for the boys?. Ao estilo do ?nomeamos-te para aquele tacho, damos-te um carrito com ?chóféri?, uma casita, pagamos-te o telemóvel e outras ?necessidades básicas? e tu, em troca, inventas umas merdas (desculpem o termo), uns diplomazitos, uns projectozitos-Lei, para o povo, estúpido, pensar que estás a fazer um brilharete, ok?
Se puderes crias com essas leis umas ?ocupações? para a família e os amigos, que eles também merecem pois têm que aturar a tua falta de inteligência?.
Qualquer semelhança entre esta caricatura política e a realidade, não é pura coincidência!
Vem isto a propósito de um ante-projecto da Educação Especial que me parece estar a ser talhado em moldes que são, no mínimo, suspeitos e estúpidos. Feito por um colectivo que percebe muito pouco do que é o papel de um psicólogo na escola e que está a ver se com isto arranja maneira de esbanjar um pouco mais do nosso dinheiro, criando mais uns Jobs, for whom? ?For the Boys of course!
Passo a explicar?
Os psicólogos têm desenvolvido, nas escolas deste país, desde o 1º Ciclo ao Ensino Secundário um trabalho muito meritório e reconhecido por todos como indispensável ao funcionamento das escolas que têm a sorte de ter um ao serviço. Com o ante-projecto que está em (pouca) discussão, os psicólogos correm o risco de serem desvinculados da escola a que pertencem para passar a estar sob a alçada dos C.A.S.E., acrónimo para Centros de Apoio Sócio-Educativo. Ora estes C.A.S.E. vão ter um COORDENADOR, topam? Aqui está um ?Job? para um amigo, sabem porquê? Porque segundo este ante-projecto os coordenadores dos CASE serão NOMEADOS, a forma mais vil e anti-democrática de, na maioria das vezes, atribuir uma função, ao menos habilitado dos ?candidatos?. Segundo o art. 47º deste diploma ?as funções não docentes serão atribuídas preferencialmente (leia-se ?obrigatoriamente?, porque tenho uns amigos do partido que estão nessa condição e adoravam ter um tacho desses) a professores do Ensino Especial?. Ou seja, poderemos ter um professor do Ensino Especial a coordenar uma equipa vasta de Psicólogos. Estão a ver a incongruência? Para fazer uma analogia, é o equivalente ao Abrunhosa tentar ensinar o Eric Clapton ou o Joe Satriani a tocar guitarra eléctrica!
Desculpem-me os colegas do Ensino Especial, mas não lhes reconheço competência e principalmente ?know-how? para coordenarem Psicólogos, Técnicos Superiores de 1ª e 2ª classes no exercício das suas funções que, ainda por cima, segundo este diploma se resumirão à resolução dos problemas dos alunos com Necessidades Educativas Especiais, ou seja a uma intervenção diagnostico-remediativa, fazendo letra morta do seu papel primordial junto de TODOS os alunos (Orientação Escolar e Profissional, Consulta Psicológica, Métodos e Técnicas de Estudo, etc).
Outro ESCÂNDALO deste ante-projecto é a possibilidade de ser Sua Excelência, o Todo-Poderoso coordenador do CASE, o responsável pela avaliação, leia-se ?progressão na carreira? dos Psicólogos que lhe estão atribuídos. Se, por acaso, o psicólogo não ?agradar?, não for da cor política, não tiver uns lindos olhos, não levar o cafezito a sua excelência, está potencialmente tramado, leva com um ?não satisfaz? e não pode progredir, independentemente de ter feito ou não um bom trabalho nas escolas.
O coordenador do CASE, se for um professor do Ensino Especial, não só não tem conhecimento de todas as funções exercidas pelos psicólogos, como não se lhe reconhece legitimidade para avaliar em exclusivo o desempenho profissional de técnicos especializados de outras categorias profissionais. Passo o exagero, é o mesmo que um mecânico de automóveis estar apto para avaliar o trabalho técnico de um compositor de música clássica.
Enfim, enquanto a maioria da classe política continuar a pautar-se pela mediocridade, o caciquismo e o compadrio continuaremos a ter malparidas reformas, desmotivadoras dos agentes da educação e ?mal-educados? e desorientados homens e mulheres do amanhã. 
Como a esperança é a última a morrer vamos esperar para ver se os responsáveis deste ante-projecto arrepiam caminho e o reformulam rapidamente, com a certeza de que se não o fizerem vão cometer um grande erro prejudicando toda a comunidade educativa.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 132
Ano 13, Março 2004

Autoria:

José Carlos Valente Breia Lopes
Professor do Ensino Secundário, Guarda
José Carlos Valente Breia Lopes
Professor do Ensino Secundário, Guarda

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