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As escolas rurais tem de estar no seu sítio!

Alcácer é um concelho do Alentejo, com tudo quanto isso acarreta  de bom e de complexo.
Se, por um lado, o ?ser periférico? e o ?ser rural? corresponde a sérios problemas de desertificação humana e de isolamento, originando situações quase a raiar a exclusão territorial e mesmo social, por outro,  possuímos uma profunda riqueza cultural, a que se associa uma vivência solidária, onde o ?ser colectivo? é marca dominante.
As famílias que aqui habitam encontram-se ainda recheadas de conteúdos e funções. No monte, na aldeia e até na cidade, a ?família?  é, ainda, presença forte na produção económica, cultural e educativa.
É num tempo e num espaço que esta domina que se produz, que se vive a cultura, que se brinca, que se aprende e que se é feliz.
Neste contexto, estabelecem-se efectivos vínculos de pertença entre os elementos de cada família e mesmo  entre os moradores de um mesmo lugar e a partilha dos saberes e das dinâmicas ocorre como acto natural.
E é aqui que se baseiam as nossas propostas de trabalho:
- Procurar reforçar  esse processo de consciencialização e empenho colectivo, que ocorre ao nível da família, ou mesmo ao nível de todo o lugar e  onde se espelha a diversidade das vivências individuais, apostando na sua continua renovação.
- Procurar também partir do que somos para chegar ao que queremos,  cimentando a acção na reflexão sobre a nossa identidade de comunidades rurais, vamos definindo e prosseguindo estratégias de um desenvolvimento centrado na qualificação das condições de vida - emprego, formação, cultura, desporto, actividade cívica.
É para esta formulação que deve colaborar a escola rural, fazendo ponte entre essa formação para a cidadania que se desenrola no domínio das aprendizagens informais e as formais. Infelizmente, sabemos que nem sempre é o estabelecimento de tal ponte, que deve unir margens por vezes tão distantes.
Distantes porque, na maioria dos Concelhos como no de Alcácer do Sal, os equipamentos educativos encontram-se concentrados nos núcleos urbanos de maior dimensão.
Incompreensivelmente, essa visão concentracionista e centralista, com consequente afastamento entre escola e comunidades rurais, sabe-se agora reforçada dada a vontade do Ministro da Educação de, por razões meramente economicistas, proceder ao encerramento das escolas com menos de 10 alunos, situação em que se encontra uma grande parte das existentes nas zonas rurais.
Estamos perante um território muito fértil na produção de conhecimentos a que se associa um ambiente de segurança e de confiança, resultante dos laços que se estabelecem dentro da própria comunidade.  
A abundância de actores que podem ser chamados á construção de todo o trabalho, sejam eles os pais ou outros familiares, os vizinhos ou mesmo as instituições (o Clube, a Associação, a Escola, o Centro Social, etc.).
Mas, para que se possa contar com o seu contributo, há um vasto caminho a percorrer. O saber que se possuí, a experiência acumulada em cada uma destas vidas, está ainda coberto por uma capa de menoridade, de ?coisa? de tão pouca valia quem nem para a escola interessa ...
Aí, mais uma vez, entra a escola, reconhecendo esse saber e validando essa experiência. Para dentro da sala devem ir as conversas da comunidade, o aprender a fazer e o partilhar, e, finalmente, o afirmar que, se sabemos fazer, porque não aproveitamos?
Com esse empenhamento comum, o trabalho merecerá seguramente o melhor acolhimento pelas comunidades e cada um dos lugares vai revelar-se na sua imensidão de recursos.
O ?viver colectivo?, influenciado pela escola e por aqueles que nela sabem como construir uma intervenção solidária, pode fazer surgir ou ressurgir a Associação dos Moradores, o Grupo Desportivo, o Centro de Dia, a que se irão associar novas formas de ocupação e até de emprego.
Este crescimento não se fará só em abrangência. Também se crescerá no conhecimento, que, segundo um processo dialéctico de reflexão/intervenção, irá dando origem a novas estratégias, cada vez mais acertivas.
O Monte ou a Aldeia, essa unidade fundamental do mundo rural, abraçarão esse trabalho se  nele se reconhecerem e a escola, para isso, tem de estar no seu sítio!


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 132
Ano 13, Março 2004

Autoria:

António Lacerda
Chefe da Divisão Sócio-cultural da Câmara Municipal de Alcácer do Sal
António Lacerda
Chefe da Divisão Sócio-cultural da Câmara Municipal de Alcácer do Sal

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