A América Latina virou politicamente à esquerda em 2003 com a chegada ao poder na Argentina de Néstor Kirchner, que se aliou ao brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva para se distanciar do modelo neo-liberal americano e reforçar a integração regional naquela área do globo. O novo eixo Buenos Aires-Brasília cristalizou-se no final de Outubro do ano passado, durante a primeira visita do presidente brasileiro à Argentina, depois da posse de Kirchner a 25 de Maio. Nessa ocasião os dois presidentes assinaram - em contraposição ao neo-liberal Consenso de Washington - o Consenso de Buenos Aires, um manifesto no qual são preconizadas as questões sociais (luta contra o desemprego e a fome, a educação e o progresso tecnológico), em detrimento do equilíbrio orçamental e do pagamento da dívida externa. Tanto Lula como Kirchner e Nicanor Duarte, o novo presidente paraguaio, sublinharam na IX Cimeira de Mercocidades, realizada em Setembro de 2003, em Montevideu, a importância da integração regional, considerada crucial para negociar melhores condições com os blocos dos países ricos como os Estados Unidos e a União Europeia. Kirchner e Lula aproveitaram a visita ao Uruguai para integrar neste "clube" Tabaré Vázquez, líder da coligação de esquerda Frente Ampla -Encontro Progressista, grande favorita para as presidenciais de Outubro de 2004. Vázquez declarou-se "em total sintonia" com Kirchner, que militou em grupos da esquerda peronista nos anos 70 e se destacou recentemente pela sua atitude firme nas negociações com o FMI. Nesta corrente da "nova esquerda" latino-americana podem incluir-se outras figuras, como o ex-jornalista boliviano Carlos Mesa, que em Outubro substituiu o ultraliberal Gonzalo Sanchez de Lozada, derrubado por uma rebelião popular. Mesa conseguiu um acordo com o líder da oposição indígena boliviana, Evo Morales, para dividir de forma mais equitativa as receitas provenientes da exportação de gás natural, e é mais flexível nas negociações com os camponeses que cultivam a folha de coca.
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