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Que modelo educacional para uma formação intercultural de professores?

SÃO SIGNIFICATIVOS OS ESFORÇOS REALIZADOS NAS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS EM VÁRIAS PARTES DO MUNDO VISANDO CONSTRUIR UM REPERTÓRIO DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS AO ENSINO. NUMEROSAS TAMBÉM SÃO AS REFORMAS BUSCANDO DEFINIR E FIXAR PADRÕES DE COMPETÊNCIA PARA A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES E PARA A PRÁTICA DO MAGISTÉRIO. NO ENTANTO, TEM-SE SENTIDO A FALTA DE UM CONJUNTO DE COMPETÊNCIAS QUE HABILITEM O PROFESSOR A ENTENDER E A LIDAR COM O DIFERENTE, A COLOCAR EM PRÁTICA UMA EDUCAÇÃO INTERCULTURAL.

O modelo educacional a desenvolver deverá ter em conta a função dos materiais escolares, o currículo, as políticas educativas e as atitudes dos alunos e professores quanto ao racismo, por exemplo. Trata-se de um modelo pensado não só para crianças de grupos minoritários, senão para «todos os alunos e para todas as escolas». Converter-se-ia desse modo, num suporte educativo que impregnaria a totalidade da vida escolar.
A organização deste modelo intercultural nos remete para uma questão central: trata-se de modificar a cultura escolar para que se propicie a igualdade de oportunidades de todos os grupos nela representados e o respeito á pluralidade, no interior de um marco democrático de decisões e de espaços de diálogo e comunicação entre os diversos colectivos sociais.
Isto implica a inclusão no currículo de todas aquelas vozes ausentes dos conteúdos escolares: mundo feminino, mundo rural, cultura infantil, homossexuais, classe trabalhadora, pessoas portadoras de necessidades especiais, terceira idade, minorias étnicas e culturais. As culturas destes grupos têm sido sistematicamente excluídas ou banalizadas, descontextualizadas e estereotipadas, mantendo a visão da cultura dominante.
Ao professor do ensino básico se apresentam vários desafios. Um dos mais importantes é o da necessidade de ele contribuir para estabelecer uma ponte entre a cultura da escola e a de casa. Como facilitar a entrada, na sala de aula, de elementos culturais que são relevantes para os alunos?
Em alguns casos, tenta-se utilizar a ponte para levar os alunos a substituírem a cultura de casa pela cultura dominante da escola. Noutros casos, utilizam-se as pontes de ligação para tentar ajudar os alunos a aprender a cultura da escola, mantendo, simultaneamente, a identificação e o orgulho pela cultura de casa.
O sucesso pedagógico que todos buscamos, não será resultante da combinação da capacidade de encorajamento ao sucesso escolar com a manutenção da identidade cultural?
A reconstrução do conhecimento por parte do docente e dos alunos organiza-se a partir das «actividades», que são as que colocam de forma relacional o aluno, o professor e o conhecimento do currículo e estruturam dinamicamente a vida na aula. A partir de um enfoque intercultural, o professor se coloca no terreno dos conteúdos escolares que incluirão os processos e de interacção em sala de aula, gerando actividades que:

  • propiciem a participação activa e a tomada de decisões dos alunos,
  • potenciem o enriquecimento intercultural,
  • se ajustem a distintas capacidades e interesses,
  • se possam aplicar a outros contextos,
  • permitam alcançar o êxito ou o fracasso,
  • favoreçam a crítica e aperfeiçoamento progressivo,
  • potenciem a planificação e o desenvolvimento em cooperação,
  • comprometam pessoalmente os alunos na análise das próprias atitudes e valores, na busca de novas perspectivas compartilhadas.

Como organizar conteúdos programáticos concretos em ordem ao interculturalismo e dispô-los no interior das matérias curriculares tradicionais?
Será que poderemos falar de uma Didáctica do Interculturalismo a promover vigorosamente nas diversas instâncias da formação inicial e permanente de professores?
O ensino da História e das Ciências Sociais não precisará de ser globalmente repensado a esta luz?
Será difícil reconhecermos que, em larga medida, esse ensino continua impregnado de vozes ancestrais e é instrumento de profundos ressentimentos que opõem comunidades e culturas vizinhas?
Estas questões estão em aberto e, para elas, se exige um envolvimento por parte de todos os educadores comprometidos com a acção educativa, em particular na perspectiva intercultural.


  
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Edição:

N.º 126
Ano 12, Agosto/Setembro 2003

Autoria:

José de Sousa Miguel Lopes
Univ. do Leste de Minas Gerais, Brasil
José de Sousa Miguel Lopes
Univ. do Leste de Minas Gerais, Brasil

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