Com o livro Transire / Ventos no Casaco, prefaciado por António Pedro Pita, o poeta de Tempo Vivo estabelece uma vez mais as diferentes pontes lançadas no andar dos anos para "explicar" ao leitor como a sua viagem sentimental se desdobra por entre lembranças e na evocação de quem seguiu a seu lado, deixou inscritos no caminho os seus recados e foi à vida. Na verdade, é sempre pela memória que, com extrema lucidez, António Menano procede ao registo poético em que tudo perpassa pelos vários poemas deste livro escritos há vinte, trinta ou menos anos, onde as imagens se sobrepõem pelos entrelaçados fios da lembrança como se um indefinido ?arco poético? se pudesse construir no que ficou guardado e agora se exprime com a amarga consciência das pedras espalhadas no caminho, como neste poema datado de Banguecoque e de Buarcos, entre Julho de 1988 e Novembro de 2000: A vida deu-me, prematura,/ o prematuro espelho em que me vejo./ Do pântano emergem cores, / levam-me para outra margem onde posso esperar./ Regresso sempre ao lugar onde nasci, / aos lençóis brancos,/ ao terraço onde adormeço a ouvir o vento. E é por este sentido de redescoberta e de memória que a poesia de António Augusto Menano se impõe na razão de descobrir em todas as paragens os sinais que permanecem por ter sido um andarilho de outras peregrinações e essa sua ?memória das coisas? determina uma poética que tem afirmado com grande expressividade e rigor e que em Transire se revela na sua maturidade mais afirmativa.
ANTÓNIO AUGUSTO MENANO Transire (Ventos no Casaco) / Poemas Capa de Alfredo Martins Ed. MinervaCoimbra / 2003.
|