Teresa Esteves, 28 anos, sorriso fácil e desembaraço nas palavras. É professora de Língua Castelhana na Escola Secundária de Oroso, região situada entre a Corunha e Santiago de compostela, Galiza. Chegou há dois anos à profissão. Tempo suficiente para se aperceber das contrariedades do Ofício. Mas pouco para se conformar com Elas.
Ainda tem fresco na memória o trabalho dispendido na preparação para as Oposiciones. Três exames eliminatórios e obrigatórios para todos os recém-licenciados que se queiram candidatar a um lugar de docente no ensino público espanhol. ?Um aluno que seja aprovado nos exames em Julho ou Agosto, em Setembro é logo colocado numa escola?, esclarece Teresa Esteves. Parece fácil. A professora diz que não. A disparidade entre o número de vagas e o de candidatos é de 15 para 700, garante. Acresce que mesmo depois de conseguir o tão desejado lugar há que contar com o inevitável: ?A efectivação demora anos a acontecer e, entretanto, o docente anda de escola em escola até que o ministério lhe arranje destino definitivo!?, queixa-se. No seu caso foram apenas dois anos de espera. Para o ano lectivo de 2003/ 04 Teresa Esteves conta ficar efectiva numa escola de Ourense. Uma região situada no interior da Galiza que disputa com a de Lugo, outra região interina, um lugar na lista de locais menos requisitados para colocações. Daí que, confirma Teresa Esteves, estes sejam os destinos que ?mais tocam? aos professores em início de carreira. Mas esta não será a colocação definitiva desta professora. Com o marido a trabalhar em Santiago de Compostela, o ideal para Teresa Esteves seria ensinar naquela cidade. O problema é que, juntamente com a Corunha, Santiago é das zonas mais pretendidas da Galiza para arranjar colocação. Pior: até poder pedir transferência a professora terá de permanecer no estabelecimento de ensino onde efectivou pelo menos dois anos. E ainda assim, o pedido de transferência depende da pontuação acumulada na carreira. Logo, é quase inacessível aos recém-chegados à profissão.
De aluna a professora
Ao entrar na sala de aulas como professora Teresa Esteves apercebeu-se que muita coisa tinha mudado desde o seu tempo de aluna. A começar pela importância da figura do professor. ?Enquanto aluna, a importância do meu professor residia no facto de ele ser o meu único meio de informação?, reflecte. E acrescenta: ?Agora os meus alunos recebem informação de vários meios e isso desvaloriza o meu papel social como professora?. Embora não seja dramática esta é uma realidade que deve ser encarada, diz Teresa Esteves. Sobretudo para que haja uma ?redefinição de papéis?, constata. Outra realidade que preocupa a professora é o que diz ser a pouca experiência pedagógica dos professores para lidar com alunos problemáticos ou desmotivados. Teresa Esteves confessa sentir na pela essa lacuna na sua formação. ?Custa-me muito saber que tenho de ensinar um programa obrigatório que não interessa nada aos alunos.? Na mente da professora um grupo de nove dos seus alunos do 3º ano da ESO (9º ano) com idades entre os 14 e os 15 anos ?que vão às aulas por obrigação?, à espera de soprar as 16 velas para oficialmente poder abandonar a escola. Para promover o continuar dos estudos depois do 3º ano da ESO, o Ministério da Educação espanhol vai criar a partir desse ano três áreas específicas de aprendizagem: científico-humanístico, tecnológico e profissional. Esta é apenas uma entre várias reformas agendadas pelo ministério. Sobre estas reformas Teresa Esteves admite que algumas delas possam até beneficiar o sistema, mas contesta: ?Fazem-se muitas reformas no Ministério da Educação, mas se não há meios para as aplicar na prática, para quê as fazer no papel?? Contrariedades de uma profissão para a qual Teresa Esteves acredita ter tido sempre vocação. E porque aquilo que mais lhe agrada no seu ofício é lidar com os alunos. Tudo o resto é ?suportável?, diz a professora.
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