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Escola de 12 anos mais um arranjo na fachada?

VAMOS ULTRAPASSAR O PELOTÃO DA FRENTE. VAMOS PARA A CABEÇA DA CORRIDA. OS JOVENS PORTUGUESES VÃO TER DE FAZER UMA DÚZIA DE ANOS NA ESCOLA BÁSICA E SECUNDÁRIA.

Foi com galhardia, regozijo, pompa e alguma petulância que as altas instâncias governativas anunciaram que os nossos jovens terão que passar 12 anos na escola. Nem outra pose se justificaria para tão nobre desígnio. O Rei D. Manuel I terá sido mais modesto quando anunciou que era Rei de Portugal, dos Algarves, d?Aquém e d?Além Mar em África.
Idêntica pose terá sido assumida quando alguém anunciou vários outros desígnios tão ou mais nobres que aquele: acesso à saúde; estruturas desportivas e lazer; estradas e auto-estradas a ligar o litoral português com o interior não se sabe se português ou ?espanholês?; etc. No entanto, apesar das melhorias das últimas décadas, das salas e listas de espera de muitos estabelecimentos de saúde, ainda escorrem rios de paciência e desespero; nas ditas estradas escorre o sangue dos incautos e outras vítimas da sua própria incúria mas também dos traçados mal concebidos; da criação de estruturas desportivas chegam-nos realizações megalómanas e organizações de grandes eventos a nível internacional para interesse de uns, gáudio de outros e capricho de outros mais, mas nunca pensando que ainda há milhares de jovens e cidadãos que querem e têm necessidade de praticar qualquer modalidade desportiva  ou de outra forma passar os seus tempos livres e não têm onde, ou se têm, não há quem os oriente.
Mediante estas brechas, entre outras que merecem análise específica, algumas questões legitimamente se impõem:

  • A escolaridade obrigatória até ao 12º ano é mais uma obra  para arranjar a fachada ou uma injecção de betão nos alicerces?
  • Os jovens vão andar 12 anos na escola a passear os livros, importunar os pais, professores e funcionários, a gastar dinheiro aos contribuintes? Ou vão frequentá-las com efectivo interesse e resultados justificativos do investimento feito?
  • Quando chegarem ao fim do académico percurso, vão direitinhos para a universidade, para as fábricas, para esta ou aquela empresa? Ou vão bater à porta do Centro de Emprego?
  • Serão encontradas soluções para a enorme diversidade de capacidades e vocações de milhões de crianças e jovens? Ou continuaremos com os inconsequentes currículos alternativos para os ?incapacitados?, o deixa-andar  para os médios e o afinamento com explicações para os outros?
  • Os programas e os manuais escolares que os apoiam, continuarão a ser ambiciosos e concebidos para uma camada privilegiada? Ou optar-se-á pela simplificação privilegiando a qualidade e exigir-se-á às editoras, manuais menos maçudos que promovam mais a autonomia do trabalho dos alunos?
  • Continuaremos com um ensino livresco e abstracto? Ou serão criadas condições para que se possa fazer uma constante ligação à realidade e ao concreto?
  • Os professores e funcionários passarão a poder exercer o seu direito ao respeito e à dignidade? Ou continuaremos a ter que suportar a rebeldia, o desinteresse, a insolência e as ameaças de muitos alunos e até de alguns encarregados de educação?
  • Os alunos poderão continuar a dissimular o seu laxismo nos magotes de 30 alunos por turma? Ou houve já alguma mente iluminada que finalmente concluiu que isso é um enorme factor de insucesso docente e discente?
  • E já que estão a pensar mexer na Lei de Bases: alguém já pensou em criar um ano 0, antes do 1º ano de escolaridade? Não se esqueçam que com bases sólidas também se combate o insucesso dos ciclos seguintes.
  • Justificar-se-á um alargamento até ao 12º ano? Ou deveria antes optar-se por colmatar as inúmeras lacunas que ainda existem nos actuais 9 anos?

Fica lançado o mote para o debate, esperando que dele saia uma solução que contribua para a formação de cidadãos cultos, responsáveis e capazes de manter este edifício sólido, harmónico e funcional tanto por fora como por dentro. Depois então faça-se a festa e venham todos discursar e aplaudir regozijadamente, mas desta vez com motivos para isso.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 125
Ano 12, Julho 2003

Autoria:

José Manuel Alves Carvalho
Professor do 1º Ciclo EB1 de Serapicos Nº2, Valpaços
José Manuel Alves Carvalho
Professor do 1º Ciclo EB1 de Serapicos Nº2, Valpaços

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