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Fotografando as leituras do e no cotidiano

LEITURA

«VER» NÃO É SÓ OLHAR. O «VER» NECESSITA «ESTAR» E NÃO APENAS PASSAR PELOS ESPAÇOS ENTENDENDO AS LEITURAS QUE FAZEMOS E COMO AS FAZEMOS NO MESMO ESPAÇO/TEMPO.

O olhar hegemônico da ciência moderna tentou ou ainda tenta nos fazer ver de maneira única os saberes e alternativas existentes no cotidiano tecendo nossa própria cegueira na forma de ensinar. O paradigma cartesiano circunscrito pela educação do olhar encaminhou/encaminha para uma cegueira que julga ver o conhecimento sem perceber a multiplicidade e a complexidade dos procedimentos no espaço/tempo em que nos encontramos.
Nesse sentido, entendemos que ?ver? não é só olhar. O ?ver? necessita estar e não apenas passar pelos espaços entendendo as leituras que fazemos e como as fazemos no mesmo espaço/tempo.
Sendo assim, o que rejeito desse olhar imposto pela modernidade, busca em uma caça  incessante do que parece estar ausente-presente nos deferentes contextos em que estamos mergulhados.
Se a escola é lugar privilegiado de práticas sociais, esse texto tem origem nas práticas sociais, proporcionadas pelo trabalho realizado no cotidiano da Sala de Leitura de uma escola municipal da periferia da cidade do Rio de Janeiro, crescido das vozes múltiplas dos contextos variados dos quais faço parte.
Assumindo o desafio de «olhar para os pés»(Santos:2000), de usar a tensão entre um olhar espectador e um olhar personagem, esse texto relata «caminhos de uma viagem porque todo relato é um relato de viagem ? uma prática de espaço »(Certeau,2000:200).
Essa alternativa encontrada no espaço da Sala de Leitura é a tentativa de fazer emergir o que nos escapa ao olhar, queiramos ou não, e do que está à nossa frente e lemos de maneiras diferentes.
Destacando a literatura infantil articulada às fotografias tiradas durante as discussões sobre o significado dos aspectos da composição do olhar, no mesmo espaço/tempo do cotidiano escolar e, fazendo emergir as múltiplas escolas da/na escola foram as maneiras de fazer ? uso? das imagens registradas num mesmo espaço para perceber o óbvio de se ter várias escolas na/da Escola e fotografando as leituras do mesmo espaço escolar.
Cada aluno escolheu uma das fotografias, que foram tiradas na escola, e após a seleção escreveram sobre a mesma. Dessa escrita, foi organizado um livro da turma sobre a escola. Esse livro com uma das turmas, mostrou um olhar afetuoso e diversificado de um ambiente com pessoas alegres, atividades e lugares da/na escola mostrando uma escola bonita.
A proposta de trabalho com outra turma foi à mesma. No entanto, surgiram fotografias de uma escola que não queremos mas está lá independente de nossa vontade. Uma escola que muitos insistem em não ver ou desviamos nosso olhar  para o olhar único de um conhecimento cego.
O que emergiu das fotografias apresentadas pelos alunos passavam desapercebidas ou não queríamos ?ver?. Essas fotos nos assustaram porque não  acreditávamos que aquelas imagens tão ?feias? existiam no mesmo espaço/tempo daquelas que apareciam tão ?bonitas?.
Os procedimentos usados e as imagens surgidas tornaram um ler/vendo/escrevendo capaz de entender que fotografando as leituras do cotidiano poderemos perceber a complexidade presente nas diferentes escolas e nos inúmeros contextos que tecemos nossas redes de leitura. Dessa forma, podendo possibilitar a diminuição dos cegos dos olhos e do entendimento que parece ser uma das alternativas de um tempo onde o emergir do conhecimento silenciado cria a tão sonhada solidariedade transformadora.

Nota do WebMaster: As imagens existentes neste artigo não são apresentadas na versão "on-line"

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 124
Ano 12, Junho 2003

Autoria:

Solange Castellano Fernandes Monteiro
Univ. do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil
Solange Castellano Fernandes Monteiro
Univ. do Estado do Rio de Janeiro, UERJ, Brasil

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