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Guerras típicas e doenças atípicas

James Petras, num artigo intitulado a ?ironia da História? sublinha o facto, iniludível, do povo iraquiano não ter acolhido os invasores (norte-americanos e britânicos) como libertadores, como proclamava a coligação, recusando agradecer os tanques, os mísseis e as bombas de fragmentação necessárias à operação do Iraque.
A guerra típica deveria, na perspectiva dos EUA, gerar divisões nas  Forças Armadas iraquianas, um levantamento popular contra o regime iraquiano durante os primeiros dias da invasão norte-americana. Washington proclamava a certeza que o povo iraquiano renunciaria a resistir.
Mas, ao contrário dos propagandistas da coligação, a guerra típica uniu diferentes sectores políticos e sociais da população iraquiana, incluindo opositores ao regime de Saddam e, nas palavras de Petras,  ?principalmente iraquianos apolíticos furiosos pela morte e mutilação de amigos e familiares, pela destruição de habitações, escolas, fábricas, escritórios e dos seus meios de vida?.
Típicos foram também os saques a Bagdad. Tudo se roubava sob o olhar complacente dos soldados norte-americanos. Discos de Mozart na embaixada alemã, fotocopiadoras nas instalações da ONU . Como exército ocupante, as Forças Armadas dos EUA são responsáveis pela protecção dos bens nas áreas que controlam mas os norte-americanos fecharam aos olhos a estas ?manifestações libertadoras?. Uma compreensão tão grande que abarcou os saques às riquezas culturais da humanidade que existiam nos museus de Bagdad. O único valor ciosamente protegido foi o petróleo.
Tudo isto é típico numa guerra que George W. Bush parece querer dar por terminada muito em breve. No Iraque, entenda-se,  que outros destinos se levantam na mira da coligação libertadora. Atípico só uma pneumonia asiática, com uma taxa de mortalidade relativamente baixa,  que tem tido o bom senso de se manter lá para os lados da Ásia, poupando a Europa.
Até ver, claro.


  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 123
Ano 12, Maio 2003

Autoria:

João Rita
Jornalista, Porto
João Rita
Jornalista, Porto

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