*
Portugal investe pouco em energias renováveis? Apesar da euforia manifestada por alguns gestores do sector, que apontam para crescimentos de 20 a 25% ao ano na energia eólica (uma das grandes apostas), não está a investir o suficiente. As últimas contas oficiais indicam a necessidade de aplicar cinco mil milhões de euros para que seja alcançado o objectivo, fixado pela União Europeia para Portugal, de que, em 2010, a nossa produção de energia eléctrica tenha uma participação das energias renováves em 39%. O próprio Governo reconhece que, até àquela data, terá de aumentar em 110% a capacidade instalada.
As entidades públicas tinham, ou não, interesse em dar um exemplo nesse sentido? Evidentemente que sim. Não basta dizer que temos compromissos internacionais, que são compromissos de solidariedade planetária, sobretudo quando falamos da necessidade de diminuir as emissões de gases com efeito de estufa ou de conter a exaustão de recursos. É necessário agir. Entre as 40 medidas de política energética recentemente anunciadas pelo ministro da Economia, identificam-se facilmente aquelas em que os organismos do Estado deveriam ser exemplares. Duas, especialmente: a utilização racional e eficiente de energia nos edifícios e a utilização de tecnologias limpas, como a energia solar.
Poderá Portugal atingir a meta dos 39% da produção de energia eléctrica a partir de energias renováveis em 2010? Portugal tem todas as condições naturais para isso. Há bons recursos hídricos; há boa exposição solar; o potencial eólico nalgumas regiões é excelente; há potencial interessante para aproveitar a energia das ondas do mar... Em 2000, se contarmos com os aproveitamentos hidroeléctricos superiores a 10 megawatts, a nossa produção com base nas energias renováveis era já de 30,9% da produção de energia eléctrica total.
Tal opção alternativa, em Portugal, é já assumida como uma inevitabilidade ou ainda continua a ser vista como uma ?mania? dos ecologistas? Sou testemunha de que corresponde a um amplo movimento ? com motivações distantas ? que vai de alguns sectores do ambientalismo (há quem levante reservas...) à economia, passando pelas universidades e pelos centros de investigação e desenvolvimento. Aliás, a componente I&D afirma-se um motor essencial do processo. Percebeu-se que ficaremos todos a ganhar ? as populações, com a melhoria ambiental e a criação de postos de trabalho; as indústrias metalomecânicas e eléctricas, com a venda e a montagem de equipamentos; a factura energética, com a redução da dependência das importações (85% da energia primária, actualmente). Mas gostava de sublinhar um aspecto essencial nesta discussão: o problema que hoje se coloca não é o de saber se temos condições para diversificar as fontes de energia, aumentando a oferta de alternativas, se isso significa que continuamos a aumentar a oferta global. A questão está em sermos capazes de responder às expectativas de conforto (a que poucos aceitarão renunciar...) e às necessidades do tecido económico (a não ser que se redesenhe radicalmente o modelo de desenvolvimento) reduzindo o consumo de energia. O que exige mais investimento na inteligência e atitudes mais coerentes.
* jornalista
|