O australopiteco "Little Foot", que viveu há 3,3 milhões de anos e cujos vestígios foram encontrados há 25 anos na caverna de Sterkfontein, perto de Joanesburgo, na África do Sul caminhava erecto e subia às árvores "com prudência", informou recentemente o paleontólogo Ron Clarke, da Universidade Witwatersrand de Joanesburgo, no último número da revista South African Journal of Science. O fóssil do Little Foot (Pé pequeno), cujos primeiros restos foram estudados está incrustado numa rocha calcária e vai aos poucos revelando alguns dos seus segredos. Este achado pôs os paleontólogos na pista do que poderá ser um dos mais importantes achados paleontológicos do mundo. De facto, o sarcófago natural de calcário contém um esqueleto inteiro ou, pelo menos, muito mais completo do que o da célebre austrolapiteca etíope "Lucy", também ela descoberta no continente africano. O facto novo é que os braços e pernas do "Litlle Foot" têm quase o mesmo comprimento, contrariamente aos membros dos chimpanzés e dos gorilas, que possuem braços proporcionalmente muito mais compridos do que as pernas, e aos dos homens, em que essa proporção é inversa. Apesar de não se poder afirmar que Little Foot seja um antepassado directo do homem, a sua morfologia permite imaginar que a linhagem da qual descende a nossa espécie se assemelhava menos ao chimpanzé do que se acreditava até agora, afirma Ron Clarke. Além das proporções, o paleontólogo baseia a sua análise no facto de este australopiteco ter um polegar grande e oponível aos outros dedos, o que o ajudaria a agarrar-se firmemente aos ramos. Os grandes símios agarram-se nas árvores utilizando quatro dedos compridos e fortes, sem recorrer ao polegar, apoiando-se nas duas últimas falanges dos dedos. Alguns cientistas consideram que esta maneira de caminhar era também a dos primeiros antepassados do homem. Mas Ron Clarke não está de acordo. "Se o homem compartilhasse um antepassado comum com o chimpanzé, este teria braços e dedos compridos, e os australopitecos caminhavam sobre os nós dos dedos", argumenta. "O facto de a anatomia do Litlle Foot não ser desse tipo parece indicar que os humanos descendem de um antepassado com membros quase do mesmo comprimento, com dedos curtos e polegares compridos, típicos do trepador prudente", conclui o investigador.
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