Do meu ponto de vista, trabalhar em educação e como educador ou educadora pressupõe a adesão ao que poderíamos designar como a vontade de educar. São quatro os seus princípios essenciais. Que toda a pessoa dispõe de competências e pode pois formar-se, tornar-se sujeito de aprendizagem. Que o desenvolvimento das capacidades e aptidões de cada um requer trabalho, esforço, disciplina e orientação. Que assim se vai cada um superando a si próprio, enriquecendo a sua arca pessoal de competências e participando, com outros, em vidas e projectos comuns, vai-se cada um, como indicam as palavras, qualificando, educando, quer dizer, melhorando. Que o esforço realizado e o mérito revelado podem e devem ser recompensados, inclusive para distinguir e premiar, configurando formas de selecção mais abertas e menos injustas do que o privilégio de sangue ou fortuna.
Estes princípios colocam a educação em confrontação com as ideologias de exclusão. Aceitar estes princípios significa um compromisso contra a exclusão.
A que vem o arrazoado, caras e caros Colegas? Vem a que o clima que se instala no País está a interpelar esse compromisso fundador da prática educativa. Disse o País, diria melhor se fosse mais preciso: a opinião publicada, os círculos do Governo. A propaganda cega dos ?rankings? de escolas; o lançamento de todo o género de suspeições sobre os pedagogos e o sistema educativo; a marginalização dos parceiros e das próprias estruturas da administração educativa, afastados da participação na definição de políticas, marginalização cujas consequências negativas estão suficientemente ilustradas nos erros crassos da revisão curricular do ensino secundário; a mal escondida ofensiva contra a participação democrática na gestão das escolas; e, em geral, o clima geral de desvalorização do ideal e da prática da educação para todos, com as sugestões recorrentes de selecção precoce dos estudantes e de relegação dos ?indesejáveis? para vias desqualificadas de formação; todos estes factores contribuem para uma interpelação brutal aos profissionais da educação.
Que vão fazer os educadores ? que vamos fazer, nós os professores e outros técnicos da educação?
Nem sempre ? é preciso dizê-lo ? nós e as nossas organizações representativas manifestamos uma consciência clara da amplitude da nossa missão profissional. Por diversas vezes, colocámos à frente da ideia geral de serviço, que está na base da nossa profissão, aspectos parcelares e interesses meramente corporativos.
Mais uma razão para sermos agora firmes na defesa dos princípios que enformam a vontade e a acção educativa. É preciso ser firme na recusa da exclusão, da selecção precoce, do abandono à sua sorte das escolas, dos estudantes e das famílias. É preciso ser firme na defesa do direito de todos à educação e à formação ao longo de toda a vida, e na demonstração de quão essenciais são, para a realização deste direito, a actividade das escolas e o empenhamento dos professores e dos educadores.
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