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Dificuldades públicas - o testemunho de uma presidente de Conselho Executivo

Já não se compra giz na escola básica Augusto Gil, no Porto. Os quadros pretos deram lugar aos brancos e os professores utilizam canetas de cor recarregáveis. Os horários foram feitos de modo a que os 600 alunos tenham aulas todas as manhãs e duas tardes por semana. Às quartas é dia de desporto escolar, as tardes de segunda e sexta estão livres. Na escola não há sinais de desleixo. Olinda Varejão, presidente do Conselho Executivo acredita que uma escola bem cuidada será sempre estimada pelos alunos e imune a vandalismos. À Página da Educação falou da relação entre pais, patrões e escola, do alargamento da escolaridade obrigatória ao 12º ano e de gestão escolar.

Disse-me que por vezes a escola tem dificuldades em contactar os pais durante o horário de trabalho?
Não é o primeiro caso em que eu tenho de ligar para o emprego dos pais e quem me atende recusa-se a chamar o funcionário. Nessa altura eu identifico-me e peço para que no fim do horário de trabalho peçam ao funcionário para entrar em contacto com a escola. Mas há pais que mesmo durante as horas do trabalho não têm possibilidade para vir à escola porque os patrões não deixam. Nesses casos, que são muito graves, os directores de turma disponibilizam-se a vir ao fim da tarde atender os pais.

Quantos alunos abandonam a escola antes do 9º ano?
A taxa de abandono é baixa, nem chega aos 2%. O que numa escola com 600 alunos seriam 12. Existem casos de insucesso escolar que tentamos orientar para outros cursos da via profissionalizante.

O que pensa do alargamento da escolaridade obrigatória para o 12º ano, será que não vai potenciar a taxa de abandono?
A priori podemos ser levados a concluir isso, mas pode não acontecer. No entanto, acho que as vias profissionais deviam ser mais exploradas. Devia haver um ensino mais profissionalizante, mais prático e orientado para a vida activa. Porque há miúdos que sentem muita dificuldade em seguir o percurso da via geral até ao 9º ano. É claro que uma reforma neste sentido requer um tempo de adaptação. Mas quanto mais escolaridade melhor.

No que toca à gestão das escolas o primeiro-misnistro manifestou a intenção de ver o voluntarismo a dar lugar ao profissionalismo. O que lhe suscita isto?
Não há duvida que a gestão da escola implica muitas horas de permanência aqui e temos de gostar muito do que estamos a fazer. Não acredito que a intenção seja pôr aqui (no lugar do presidente do conselho executivo) um gestor administrativo, porque numa escola a base principal é a parte pedagógica. É evidente que a parte administrativa tem um peso muito grande e até influencia muito a pedagógica? Ás vezes propõem-se algumas coisas na parte pedagógica que administrativamente não podem ser executadas.
Mas também acho que a escolha de um professor para o Conselho Executivo não pode ser feita por o corpo docente entender que ele é boa pessoa. Neste momento a gestão de uma escola é já muito complexa e exige muitos conhecimentos. Pelo que é muito difícil para um professor sair de dar aulas e vir para o gabinete. Eu mantenho-me no Conselho Executivo há doze anos porque quando vim para aqui tinha estado da Direcção-Geral do Ensino Básico e isso deu-me alguns conhecimentos que facilitaram a minha integração. Penso que a escola pode ser administrada por professores mas tem de lhes ser dada uma formação específica. E actualmente existe uma grande falha nesse aspecto que tem de ser colmatada pelos próprios professores.


  
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Edição:

N.º 119
Ano 12, Janeiro 2003

Autoria:

Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Olinda Varejão
Presidente do Conselho Executivo da Escola Augusto Gil, Porto
Andreia Lobo
Jornalista, A Página da Educação
Olinda Varejão
Presidente do Conselho Executivo da Escola Augusto Gil, Porto

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