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Alegoria do Parque
- Suponhamos umas crianças que brincam num parque. Nesse parque o espaço é muito reduzido e todos os baloiços, escorregas e outros entretenimentos estão ou quebrados ou em estado de grande degradação. Por esse facto as crianças apenas podem brincar num largozinho de areia situado no centro do parque. Junto a esse largo existe uma árvore. Imagina agora que junto a esse largo de areia existe um único baloiço num estado razoável, mas esse baloiço apenas tem capacidade para uma das crianças. Ao lado desse baloiço encontra-se um outro ainda por estrear mas está vedado pelo que as crianças não o podem utilizar. E no lado oposto encontra-se um escorrega que também permite a utilização com mínima segurança só que oferece menor divertimento às crianças.
- Estou a ver ? disse ele.
- Visiona também ao fundo do Parque um banco onde se encontram as mães das crianças, e junto ao largo de areia uma vigilante que observa as crianças. Imagina também que as duas crianças brincam no largo com papagaios. A pimeira criança tem um papagaio de tecido, bastante resistente, último modelo, comprado nas melhores lojas de brinquedos, de várias cores e se for bem conduzido é capaz de atingir uma altura incrível e fazer todos os malabarismos que ensinam nas instruções. A segunda criança tem um papagaio de papel e madeira, frágil, feito pelos materiais que sobraram na oficina do seu pai, e que terá mais dificuldade em atingir alturas mais elevadas.
- Estranho quadro e estranhas crianças são essas de que tu falas ? observou ele.
- Semelhantes a uma situação bastante actual ? continuei ? Em primeiro lugar imagina que as duas crianças ambicionam ir andar de baloiço. Como se encontram presentes as mães e uma vigilante elas resolvem fazer um pacto: aquela que conseguir fazer os voos mais belos, atingir uma altura maior, e melhor rodopiar o seu papagaio, vence e fica com direito de andar de baloiço. Para este efeito pedem à vigilante que se encontra próxima do largo de areia se pode servir de Júri e avaliar qual das crianças faz o papagaio efectuar o voo mais belo. Qual das crianças à partida terá mais hipótese de atingir o seu objectivo ?
- A primeira ? respondeu ele ? se é a que possui o papagaio mais resistente e capaz de efectuar voos mais altos mais facilmente.
- Suponhamos agora que a vigilante deu às crianças um certo tempo para treinarem. Ao fim de poucas tentativas a primeira criança consegue facilmente fazer voar o seu papagaio de maneira graciosa mas no entanto cansa-se rápidamente de procurar e de tentar fazer com que o seu papagaio voe mais alto e de forma mais bela. O calor do sol fá-la transpirar e a criança não tem paciência para ler as instruções e tentar executá-las no seu papagaio. Por isso acaba por sentar-se na sombra da árvore que se encontra perto do largo de areia.
- Estou a ver !
- Vizualiza agora a segunda criança que possui o pior papagaio. Após várias tentativas e de um grande esforço ela consegue fazer com que o seu papagaio faça uns voos rodopiantes. Porém ela deseja muito ir para o baloiço e não tenciona desistir facilmente. Olha para o seu papagaio atentamente, estuda-o e imagina na sua cabeça qual será a melhor forma de fazer voar aquele papagaio de uma forma graciosa. Volta a tentar repetidamente. De vez em quando é interrompida pelos refilos da outra criança que está cansada de esperar mas que não quer ir treinar mais pois já se considera suficientemente capaz de realizar a prova. Não acharás tu que a vigilante deverá ter assistido ao treino das duas crianças?
- È absolutamente forçoso! ?disse ele.
- Considera pois ? continuiei eu ? a impressão com que a vigilante ficou do treino e do esforço que a primeira criança fez não será diferente da impressão causada pela segunda criança ?
- Por Zeus, que sim!
- De qualquer modo, imagina que o tempo de treino tinha terminado e que íam começar as provas para seleccionar o vencedor. A primeira criança fez uma bela prova o papagaio voou alto e de forma graciosa porém igualmente belo foi o voo efectuado pelo papagaio da segunda criança. Não achas que o esforço e a dedicação da segunda criança terão igualado a qualidade do papagaio da primeira criança ?
- Com certeza.
- Neste contexto tendo observado o treino das crianças, não te parece forçoso que a vigilante fosse nomear vencedora a criança cujo esforço e dedicação tinham superado as dificuldades postas pela qualidade inferior do seu papagaio ?
- Necessariamente.
- E se agora a mãe da primeira criança se aproximasse da vigilante e verificasse que ela era a sua grande amiga de infância que ela já há muito tempo que não via, e converssassem as duas animadamente sobre os velhos tempos e ela lhe apresentasse o seu filho (primeira criança). Não te parece provável que a vigilante nesta situação fosse beneficiar a primeira criança por esta ser filha da sua grande amiga apesar de reconhecer o grande esforço efectuado pela segunda criança ?
- Sem dúvida ? confirmou ele.
Meu caro amigo ? prossegui eu ? este quadro deve agora aplicar-se a tudo quanto dissemos anteriormente, comparando o Parque Infantil (ao ensino em Portugal), os baloiços, escorregas e outros entretenimentos enferrujados (às deficientes qualidades nas escolas nacionais), os papagaios (aos diferentes níveis de apoio que os alunos portugueses têm), as crianças e as suas diferenças sociais e psicológicas (aos alunos portugueses), a mãe da primeira criança (as cunhas e as influências), a vigilante (as injustiças das provas e dos exames nacionais em casos de currupção e de injustiça), o sol ( que representa a preguiça que leva à paragem do estudo), a árvore (que representa o conformismo dos que sabem que aparentemente não se precisam de esforçar mais pois sabem que graças a um conjunto de factores conseguiram os seus objectivos de maneira mais facilitada), o largozinho de areia (corresponde aos jovens que estudam em Portugal), o acordo entre as crianças e a vigilante (leis do ensino), o escorrega que pode ser utilizado mas proporciona menor divertimento às crianças (o ensino alternativo para aqueles que não conseguem os seus objectivos) o baloiço que se encontra em bom estado e com capacidade para apenas uma das crianças (o ensino universitário cujas médias são as mais elevadas e têm um número reduzido de vagas), e o baloiço que se encontra vedado e não permite que as crianças o utilizem (as vagas que deveriam ser abertas em determinados cursos de forma a diminuir as médias e que permitiria a diminuição futura de problemas nacionais nomeadamente na área da saúde).

  
Ficha do Artigo
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Edição:

N.º 118
Ano 11, Dezembro 2002

Autoria:

Rafaela Campanha
Nº 18, 11º3, 16 anos, Escola Secundária Braamcamp Freire da Pontinha
Rafaela Campanha
Nº 18, 11º3, 16 anos, Escola Secundária Braamcamp Freire da Pontinha

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