A maioria das informações contidas nos jornais é de casos
específicos e, normalmente, não contextualizam a matéria dentro do conjunto
de conhecimentos já adquiridos.
Nas últimas décadas, os grandes avanços da ciência deixaram
de ser temas de discussões exclusivas dos círculos académicos. Os conhecimentos
científicos, muitas vezes associados às inovações tecnológicas, dispersam-se
entre o público leigo e têm atraido cada vez mais pessoas para o seu universo
de observações e teorias.
Entender como é possível transferir genes humanos para bactérias ou como as
estrelas terminam as suas vidas explodindo em supernovas, pode, hoje, não ser
uma tarefa tão complicada como foi no passado. Estes e outros assuntos que vão
da Geologia à Medicina, já fazem parte do quotidiano dos cidadãos deste milénio.
Este fenómeno de popularização da ciência deve-se, em primeiro lugar, à influência
que muitas descobertas científicas tiveram sobre a sociedade. Como consequencia,
estes temas ganharam um espaço nos meios de comunicação, transformando termos
científicos em palavras de uso comum. Um bom exemplo do impacto de recentes
experiencias científicas sobre a opinião pública portuguesa tem sido o grande
debate desencadeado sobre bioética, devido aos casos de clonagem de animais.
Contudo, a maioria das informações contidas nos jornais é de casos específicos
e, normalmente, não contextualizam a matéria dentro do conjunto de conhecimentos
já adquiridos. Desta forma, propagam-se e cristalizam-se preconceitos no público
leitor que dificilmente serão revertidos.
Numa sociedade que necessita guiar as discussões sobre o reflexo da ciência
na sua vida, não podem permanecer as más interpretações. Para questionarmos
as políticas científicas que colocam em risco o equilíbrio natural dos ecossistemas
ou mesmo propor o uso de tecnologias alternativas que eliminem ou reduzam os
prejuízos ao meio ambiente, é necessário qualidade nas informações transmitidas.
Embora saibamos dos muitos benefícios reais que a aplicação da ciência trouxe
à vida das populações, alguns incidentes ocorridos recentemente colocam questões
a respeito do uso tecnológico de algumas descobertas científicas. É por isso
que tem sido de enorme importância o papel que muitos professores e cientistas
têm desempenhado na divulgação dos seus ramos de pesquisa, principalmente aqueles
que tentam associar os conhecimentos específicos da sua área com reflexões sobre
as aplicações directas dessas investigações nas situações do quotidiano. A contribuição
de maior alcance tem sido através da publicação de livros, que em muitos casos
são escritos em linguagem acessível ao público, mantendo fiéis o seu conteúdo
e rigor informativo.
Estimular essas iniciativas individuais e também, em conjunto com a participação
da juventude académica das universidades, apoiar programas locais de popularização
da ciência é apoiar directamente um projecto de educação. Educação esta que
não se resume ao compartimento dos conhecimentos transmitidos na sala de aula,
pelo contrário, que se transforma em potencialidade individual do cidadão quando
aplicada no seu dia-a-dia. Apoiar a divulgação da ciência é educar!
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