Valeu a pena esperar. Foram 20 anos de ditadura, aprendendo
a dizer não às escondidas, 10 anos de aprendizagem política e social na criação
e consolidação de movimentos sociais e lutas pela democratização. Os últimos
anos foram de ?marcha-atrás?, com o neo-liberalismo e suas perversidades, e
neles, aprendemos a navegar nos espaços invisíveis e indizíveis ao triunfalismo
do modelo capitaneado por nossos ?nobres? doutores.
Finalmente, chegou a nossa vez. E por quê?
Porque aprendemos nesses tempos, com a vida, com os fazeres possíveis em cada
um desses momentos, a criar uma cultura política diferente, buscando instituir,
através dos espaços abertos pelas improváveis pequenas vitórias que se foram
acumulando, outros modos de governar, mais participativos e democráticos. Aprendemos
a acção possível para o desenvolvimento da nossa frágil e insuficiente democracia,
sob a pressão dos incrédulos e dos grupos dominantes. Aprendemos, ainda, a dialogar,
a negociar, a avançar e recuar, sem perder de vista o horizonte de nossa utopia
- a da esperança de um Brasil decente - que pretende inaugurar uma nova fase
na nossa história, uma fase em que ?o Estado brasileiro [esteja] a serviço da
maioria da população?.
Não sou chegada a patriotismos exagerados, dos quais até desconfio, mas hoje,
diante da alegria que toma conta do Brasil, só posso estar feliz por ser brasileira.
É a realização de um sonho pelo qual tantos trabalhamos, aprendendo uns com
os outros, mesmo quando ninguém ensinava. Uma vitória com imenso significado
humano e político.
A longa caminhada que nos trouxe até aqui torna evidente a necessidade de aprendermos
com as práticas, nossas e de outros, o trabalho colectivo e a solidariedade,
a necessidade de enfrentarmos os obstáculos, aprendendo com eles as astúcias
possíveis para ultrapassá-los. Aqui me lembro do saudoso Betinho que, infelizmente,
não viveu o bastante para comemorar connosco esse momento. Aprendemos, também,
com os nossos erros e incertezas, com as lacunas e os conflitos, que, se a realidade
não é o que idealizamos, ela pode ser por nós modificada, recriada, reinventada,
através da nossa esperança em acção e das nossas convicções compartilhadas.
O Brasil que existe ?pode mudar pela luta de cada mulher e de cada homem que
vive neste país?. ?É só você querer, que amanhã assim será? dizia o refrão do
jingle da campanha, não deixando dúvidas quanto à importância de todos e de
cada um nesse outro modo de fazer/refazer, a cada dia, a vida e a política.
Aprendendo, com as boas e más experiências, a pensar e a inventar esse outro
Brasil, pudemos chegar à realização desse sonho, ?sem medo de ser feliz?, como
já nos ensinava a campanha presidencial de Lula em 1989. Essa era, na altura,
nossa resposta aos apologistas do medo, ainda hoje em acção, ameaçando-nos de
maior infelicidade se tentássemos mudar o jogo de interesses nacional e internacional
que mantém o país como o de maior desigualdade social do planeta.
A estrela da esperança, abraçada pela criança diante do Congresso Nacional,
representa, hoje, a primeira oportunidade que o Brasil se dá de romper com sua
história de desigualdades e iniqüidades, de negação dos direitos mais fundamentais
a imensas parcelas da população. Foi aprendendo a dizer não, a formular alternativas
utópicas e a colocá-las em acção, na invisibilidade das solidariedades quotidianas,
que foi criada a possibilidade da construção de um Brasil decente, com Lula
presidente.
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