Desde o México, em 1995, até à falência da Argentina, em
2001, passando pela crise asiática de 1997, o economista francês Jérôme Sgard
desmonta no seu livro "A Economia do Pânico" os mecanismos das crises
financeiras, e as respostas, improvisadas aos poucos, que são dadas às mesmas.
Sgard, que trabalha no Centro de Estudos Prospectivos e de Informações Internacionais
(CEPII) - instituto francês de conjuntura -, e é professor associado da Universidade
de Paris, entrevistou cerca de 150 actores e testemunhas das últimas crises
financeiras, entre funcionários e directores de bancos centrais, ministérios
da Economia, bancos, empresas e do próprio Fundo Monetário Internacional (FMI),
do Banco Mundial e do Tesouro Americano.
No seu livro, publicado pela editora francesa La Découverte, Jérôme Sgard chega
à conclusão de que nos próximos anos a gestão das crises internacionais continuará
caracterizada por um "alto grau de improvisação". Afirma o economista
que o tratamento de choque continuará a predominar, "com todos os riscos
políticos que daí advêm", começando pela "eleição" dos países
que "devem ser salvos e dos que terão de ser abandonados".
Na sua opinião, no futuro poderemos deparar-nos com uma crise internacional
grave, para a qual não haverá instrumento nem conhecimento necessários para
responder numa frente ampla. "Não se pode excluir a possibilidade de a
sobrevivência dos mercados de capitais globais ser questionada nesse momento",
refere Sgard.
Na sua análise das crises financeiras mais recentes, o economista interessou-se
principalmente pelo impacto da liberalização dos movimentos de capitais a curto
prazo, assim como pela dinâmica da própria crise. Afirma, por exemplo, que
o FMI se recusou sistematicamente a instaurar provisoriamente o controlo da
saída de capitais, em nome da livre circulação, quando tal medida teria permitido
evitar o agravamento da situação de um país fragilizado pela brusca fuga de
capitais.
O autor acredita que "a globalização não exigiria a retirada do Estado,
como tanto se tem repetido, mas, ao contrário, a construção do Estado (...)
no sentido do Estado de direito", ou seja, uma tentativa de fazer convergir
o liberalismo económico e o liberalismo político.
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